A bela... e a bela
Parece que foi outro dia que uma certa banda finlandesa apareceu do nada fazendo um som que misturava de forma toda especial gothic metal com metal melódico e alguma coisa chamada de darkwave. Com um álbum chamado Oceanborn em mãos - o segundo em sua discografia -, este mesmo grupo chamava a atenção não somente pela originalidade de sua proposta, mas também - e talvez principalmente - por contar, no comanda da coisa toda, com vocais femininos absolutamente primorosos, de caráter sumamente operístico, mas que se encaixavam com precisão absoluta na belíssima música da banda.
Bem, como todo mundo sabe, Oceanborn foi um grande estrondoso, o Nightwish virou banda grande no mundo inteiro e sua vocalista e 'frontwoman', Tarja Turunen, transformou-se numa das figuras mais requisitadas do cenário metálico contemporâneo. Com o álbum seguinte, Wishmaster, o grupo cimentou sua reputação, veio ao Brasil pela primeira vez e ratificou seu status de fenômeno musical, tendo sido capa de revista em tudo quanto é lugar e colocado seu nome definitivamente na história do rock pesado.E agora, com a formação ligeiramente modificada, já que o antigo baixista Sami Vänska foi substituído pelo ex-Sinergy Marco Hietala - Tarja(V), Tuomas Holopainen(K), Jukka Nevalainen(D), e Emppu Vuorinen(G) completam a line-up-, o Nightwish chegou ao quarto trabalho, Century Child, seu primeiro por uma major, e aportou pela segunda vez no Brasil.
Embora tanto o novo CD quanto o novo show sejam inferiores ao que o grupo já fez no passado em ambos os campos, é inegável que a popularidade alcançada pelo quinteto de quatro anos pra cá só tende a crescer ainda mais. Seja já não existe o fator surpresa em Century Child, um trabalho bastante previsível até, o nível de qualidade, por outro lado, mantém-se intacto, bem como o bom gosto das composições e os vocais inacreditáveis de Tarja. Deste modo, não chega a ser surpresa o sucesso retumbante do CD em tudo quanto é canto.Para se honesta, desta vez já esperávamos, sim, ter bastante sucesso co o disco", conta Tarja em papo exclusivo com a Rock Brigade."A razão para isso é que o Wishmaster vendeu tão bem e teve uma recepção tão excelente que não poderíamos esperar outra coisa. É sempre muito bom ler as boas resenhas que estamos tendo e ouvir o feedback positivo dos fãs , mesmo porque a pressão que sofremos para fazer esse álbum foi bem grande. Eu acho que se trata de um disco diferente, mas sua boa recepção tem nos dado forças para lutar e conseguirmos dar o próximo passo e seguirmos em frente no futuro.
Futuro esse que tem muito a ver com a própria Tarja. Afinal de contas, ela é o centro das atenções do Nightwish e a maioria das composições seja de autoria de Tuomas Holopainen -, mas muitos boatos têm dado conta de que sua saída da banda é mera questão de tempo.A cantora atualmente reside na Alemanha e está totalmente concentrada em seus estudos de canto lírico, o que dá ainda mais corda para os rumores, Bem, você pode ler muitas e muitas coisas na internet, mas, infelizmente, nem sempre elas correspondem à verdade ", diz ela. "Eu tenho me deparado com esse tipo de boato desde que o Nightwish foi formado, cinco anos atrás. As pessoas sabem que eu sou tipo diferente de vocalista, pois não me dedico somente ao heavy metal, mas também à música clássica. Tem que estar claro para todo o mundo que um dia isso irá acabar, pois, mais cedo ou mais tarde, eu irei seguir em frente com minha carreira clássica. Eu não estou dizendo que isso vai acontecer agora, mas um dia certamente irá.Ela justifica:"Quando o Nightwish nasceu, eu já estudava canto clássico, mas de repente, tudo tão gigantesco com a banda que eu simplesmente não pude mais continuar meus estudos na Finlândia. É por isso que agora eu me mudei para a Alemanha e estou me concentrando em meus estudos lá.O Nightwish irá continuar enquanto todos nós estivermos felizes na banda. A banda não é apenas eu, somos cinco pessoas e todos temos que estar nos sentindo bem com o que estamos fazendo. Senão, nada disso faz sentido algum.
Tarja não poder terminar seus estudos na Finlândia e ter que se mudar para a Alemanha para ter sossego é um reflexo direto do status de superstars que os integrantes do Nightwish adquiriram em sua terra-natal."Tornou-se impossível para mim andar pelas ruas de Helsinque sem perceber que todas as pessoas estão me seguindo com os olhos", diz ela, os finlandeses são tímidos, não são do tipo que ficam importunando as pessoas, a não ser que estejam com algumas doses de álcool no sangue. Porém, eu tenho que tomar cuidado com o tipo de roupa que eu saio nas ruas, pois seria horrível para os fãs se eles me vissem por aí com um pulôver cor-de-rosa ou algo assim[risos].
Como seria de se supor, também em Century Child os vocais celestiais de Tarja Turunen são o destaque imediato. Seja em momentos mais intimistas e sua vez, como Forever Yours; seja nos temas mais pesados e vigorosos, como Slaying The Dreamer, é a voz da cantora o elemento primordial da música que se ouve. E, por incrível que isso possa parecer, desta vez as vocalizações estão ainda mais bombásticas e brilhantes do que antes, possivelmente como resultado dos estudos que Tarja está levando a cabo na Alemanha e que a elevam à condição de principal vocalista mulher do heavy metal atual."Muito obrigado pelas palavras gentis, é sempre muito bom ouvir esse tipo de comentário, ela agradece, e continua: Bem, não chega a ser uma pressão sobre mim ser considerada a melhor vocalista de heavy metal do mundo, pois eu mesmo não penso iso sobre mim. Existem tantas excelentes cantoras no cenário heavy metal que eu simplesmente não posso me considerar a melhor de todas.
Entretanto, é inegável que o sucesso do Nightwish, somado também à boa repercussão que outras bandas com vocais femininos alcançaram - como Theatre Of Tragedy, Tristania, The Gathering e outras -, causou uma verdadeira explosão de grupos com mulher cantando, algo que acabou virando praticamente um subgênero metálico. Eu acho muito legal isso ter acontecido ", vibra Tarja. Eu acredito que as mulheres tenham o poder de dar algo muito mais especial ao heavy metal. Nós somos muito mais sensíveis e emocionais que os homens e pudemos trazer isso para a cena, o que a tornou ainda mais rica hoje em dia. E o mais interessante de tudo isso é que cada uma dessas cantoras está fazendo seu próprio trabalho, sem copiar ninguém. Tarja, inclusive, tem uma vocalista preferida dentre as tantas que hoje estão cantando em bandas de heavy metal: Minha favorita é a Liv [Kristine, do Theatre Of Tragedy]. Ela possui uma voz tocante.
Por outro lado, é óbvio que o heavy metal ainda é, em grandessíssima parte, um ambiente dominado por homens. por mais que alguma vocalista já estejam se ;infiltrando" nesse mundo, não dá planejar que mesmo ainda é uma ampla constelação de peludo e cuecas. Por isso, a mulherada tem que se virar. É verdade, admite Tarja. O problema é que os homens são incapazes de mudar suas atitudes ou seu comportamento, por mais que estejam fazendo turnês ao lado de mulheres. Porém, infelizmente, e eu posso notar isso acontecendo comigo mesmo muitas vezes, as mulheres começam de certa forma a agir como homens depois de algumas semanas na estrada com eles. É difícil ser a única mulher em meio a tantos homens quando estamos em turnê e o tempo é sempre muito escasso. Mas temos sempre que estar sorrindo para as câmeras e vestindo roupas bonitas. Senão, todo mundo já começa a nos chamar de putas. Eu não quero ver minha imagem relacionada a essa palavra, por isso, tenho que me cuidar muito para que isso não aconteça, mesmo que seja bem difícil e chato de vez em quando.
Bem, quem esteve em qualquer um dos shows do Nightwish no Brasil (tanto da primeira quando desta vez) ou teve algum tipo de contato com Tarja, por mínimo que fosse, sabe que a palavra "puta" está muito, muito longe de poder qualificá-la com precisão. Pelo contrário, pois ela é sinceramente uma mulher de classe, refinada e muito gentil, especialmente quando fala do Brasil. "A primeira vez que estivemos no Brasil foi a melhor experiência de nossas carreiras, derrete-se ela. De modo geral, as pessoas na América do Sul são fantásticas e os momentos que passamos com elas, tanto no palco como fora, foram maravilhosos, A recepção do público é gigantesca! Nós adoramos tocar no seu país, pois as pessoas são ótimas, amistosas e loucas!" E ela não perde a classe nem quando falamos pra ela que o pessoal aqui no Brasil andou espalhando por aí que ela estava grávida: É claro que estou grávida, diverte-se. Aliás, eu quase não pude vir ao Brasil para esta tour, pois o bebê vai nascer já, já daqui duas semanas!
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