Presente para os fãs
(pena que ela não vem junto...)

Parece incrível, mas já se vai mais de um ano desde aquela pequena e bem-sucedida tour que o Nightwish fez pelo Brasil (apenas dois shows, um em Curitiba e outro em São Paulo). A breve passagem do quinteto finlândes por aqui, no entanto, deixou lembranças indeléveis no público brasileiro, assim com o público brasileiro deixou marcas profundas nos integrantes da banda. Graças a essa adminiração mútua, é praticamente garantido que o Nightwish retorna para nossa querida nação varonil tão logo seu quarto álbum seja editado. E, desta vez, para um giro certamente mais longo e significativo.

Entretanto, o próximo CD de estúdio da banda não deve enxergar a luz do dia antes de meados do ano que vem. Para que a aflição dos fãs não se tornasse gigantesca por causa disso, o conjunto decidiu editar uma espécie de passatempo, algo que tornasse a espera menos dolorosa. Tal tira-gosto atende pelo nome de Over the Hills and Far Away, que chega ao Brasil no clássico formato de EP estendido. A versão nacional contém as quatro faixas de estúdio do single Over The Hills And Far Away (editado somente na Finlândia) - Over The Hills and Far Away (cover do Gary Moore), 10th Man Down (inédita), Away (inédita) e Astral Romance (regravação da mesma canção encontrada no Angels Fall First) - e seis retiradas do ao vivo From Wishes to Eternity, também lançado com exclusividade na Finlândia. Esta é a msma versão que está sendo lançada praticamente no mundo todo.

Quem empresta mais detalhes sobre tudo isso a esta Rock Brigade é a vocalista que povoa os sonhos de 10 entre 10 fãs de heavy metal, Tarja Turunen, aquela que, ainda por cima, canta pra cacete. Muitíssimo bem-humorada, ela falou conosco de um quarto de hotel na Alemanha, onde passava as férias. Ah, e é de bom citar que além dela, tamém estão no Nightwish os mesmos Tuomas Holopainen (K), Emppu Vuorinen (G), Jukka Nevalainen (D) e Sami Vänskä (B), que vieram ao Brasil ano passado.

Confira a entrevista:

Revista Rock Brigade: Over The Hills And Far Away não é exatamente o quarto album do Nightwish. Apesar de alguns temas inéditos, ele possui um perfil totalmente diferente do que poderíamos chamar de um disco novo. Por que vocês decidiram lançá-lo e como foi decidido o seu formato ?

Tarja Turunen: Bem, o nosso último disco, Wishmaster, foi lançado em maio do ano passado. Já naquela época, sabíamos que o próximo trabalho tomaria um tempo maior para ser feito, por isso, teríamos que oferecer alguma coisa para os fãs nesse interim. Essa foi a principal razão para termos feito esse EP expandido, que na Finlândia, por sinal, é apenas um single de quatro músicas [N. do R.: as quatro primeiras do CD]. Nos outros países, há as faixas ao vivo. É uma coisa meio complicada, foram lançadas várias versões dele por aí. Enfim, nós precisávamos dar alguma coisa nova para os nossos fãs enquanto o próximo álbum não era lançado. Over The Hills and Far Away é uma música legal, embora não seja nada de especial, mas todos nós gostamos dela. A idéia de fazer esta canção foi do Tuomas. Ele gosta muito dela e, por isso, não tivemos a intenção de fazer muito mais do que o Gary Moore já havia feito em sua versão. Porém, claro, ficou diferente, pois o Nightwish não tem nada a ver com Gary Moore [risos].


Revista Rock Brigade: Além de Over The Hills And Far Away, há um outro CD ao vivo do Nightwish, From Wishes to Eternity, que foi lançado apenas na Finlândia. Por que não lança-lo no mundo todo ?

Tarja Turunen: [rindo] Você não é a única pessoa que me perguntou isso nesses últimos dias. Bem, Tuomas e nós mesmos, o resto do Nightwish, fizemos uma promessa aos nossos fãs finlandeses. Toda essa história envolvendo o grupo é como uma fantasia, embora sejamos ainda uma banda muito jovem, já conquistamos muita coisa. Por isso, nós precisáva-mos dar um presente aos nossos fãs finlandeses, que sempre nos deram todo o apoio, desde o comecinho de nossa carreira. Se você me perguntasse há um ano, eu diria que o Nightwish era provavelmente a última banda do mundo a pensar em fazer um CD ao vivo. Foi como uma surpresa quando decidimos fazê-lo, inclusive para nós, e mais surpreendente ainda foi termos ficado satisfeitos com ele. Claro, existem erros, mas, no geral, gostamos bastante do resultado. Depois que lançamos o disco na Finlândia, é lógico que muitos outros países começaram a pedir para lançá-lo também. Nós sabíamos que isso aconteceria, mas uma promessa é uma promessa é nós não podíamos quebrá-la. Assim, decidimos adicionar seis faixas do disco ao vivo na versão mundial do single Over The Hills And Far Away. Essa é a história.


Revista Rock Brigade: Como foi o processo de seleção das músicas do disco ao vivo que entrariam no EP? Ou seja, qual a razão para terem sido essas seis as escolhidas ?

Tarja Turunen: Eu não sei. Eu realmente não tenho idéia de como chegamos a essas seis faixas. Acredito que tenha sido escolha da Spinefarm [N. do R.: gravadora finlandesa do Nightwish]. Provavelmente, eles acharam que essas seis foram as melhores músicas do disco ao vivo. Deve ter sido isso, mas a banda nunca falou com eles sobre essa seleção.


Revista Rock Brigade: Pra você, essas seis músicas são realmente as melhores do disco ao vivo ?

Tarja Turunen: [pensativa] Oh, é difícil dizer. Há muitas coisas boas no disco. Especialmente pra mim, esse CD ao vivo foi uma grande surpresa. Eu nunca fico satisfeita com a minha performance ao vivo, por isso, é muito difícil para mim me ouvir cantando. Eu sou muito perfeccionista, detesto escutar minha voz numa situação ao vivo. Porém, quando eu ouvi o álbum ao vivo, eu pensei: "Que legal, até que eu não sou tão ruim quanto eu pensei que era no começo." É claro, eu sei que ainda posso melhorar muito, mas, de qualquer modo, foi uma surpresa agradável. Mas é difícil dizer quais as canções que ficaram melhores no disco. Por sinal, eu me sinto bastante desconfortável com esta situação, ou seja, de saber que vocês aí do Brasil e de outros países não tem sequer a chance de escutar o CD inteiro e tirar as suas próprias conclusões.


Revista Rock Brigade: Há uma regravacão de Astral Romance em Over The Hills And Far Away. Por que vocês regravaram essa música, que apareceu originalmente no Angels Fall First ?

Tarja Turunen: Bem, a história desta música tinha que ser mudada de alguma forma. Tuomas veio com a idéia de fazer isso. Astral Romance é uma das músicas mais pessoais que ele fez para o Nightwish, mas eu não sei ao certo qual o significado dela para ele. No entanto, ele queria fazer essa canção outra vez, para melhorá-la. Eu não sei se conseguimos, pois algumas pessoas tem reclamado, enquanto outras consideram a nova versão realmente muito melhor. Mas o fato é que era uma música que tinha uma história que deveria ser mudada.


Revista Rock Brigade: Pessoalmente, você gosta mais dessa nova versão ou da antiga ?

Tarja Turunen: É lógico que, para mim, foi muito mais fácil cantar essa música desta vez. A minha voz progrediu e eu já possuo uma experiência muito maior como cantora. Além disso, também gosto muito dos vocais de Tony [Kakko], do Sonata Arctica. Por isso, talvez eu goste mais da música como ela ficou agora, mas são coisas diferentes.


Revista Rock Brigade: Eu ia mesmo perguntar sobre a participação de Tony nesta música e também na versão ao vivo de Beauty and the Beast e nos backing vocals de Over The Hills And Far Away.

Tarja Turunen: Nós somos todos muito amigos. Todos os integrantes do Nightwish têm um ótimo relacionamento com o pessoal do Sonata Arctica, especialmente Tuomas e Tony. Eles são grandes amigos e eu também gosto muito do Tony. Por isso, foi tudo muito fácil. Ele queria participar de alguma coisa conosco e, como Tuomas não quer mais cantar, tudo se encaixou.


Revista Rock Brigade: Tuomas vai abandonar os vocais definitivamente ou é apenas uma decisão momentânea ?

Tarja Turunen: [rindo] Acho que ele já tomou a decisão de desistir de cantar pra sempre!


Revista Rock Brigade: Há duas músicas de estúdio originais no CD, 10th Man Down e Away. Elas foram escritas especialmente para o disco ou são sobras de outros trabalhos do Nightwish ?

Tarja Turunen: Essas duas canções foram escritas para o single. O problema foi que tivemos que faze-las muito rapidamente, mas posso garantir que elas não serão lançadas em nenhum outro lugar que não em Over The Hills And Far Away.


Revista Rock Brigade: Os vocais em 10th Man Down são creditados a um cara chamado Wilska. Trata-se de alguém especial ou conhecido ?

Tarja Turunen: Não, não! Wilska é apenas um cara que fez alguns vocais nessa música, não é ninguém em especial. Aliás, ele já havia trabalhado conosco antes no Oceanborn. Na música Devil & The Deep Dark Ocean, ele era o "Devil", Ou seja, a voz masculina.


Revista Rock Brigade: Você disse que essas duas músicas novas tiveram que ser feitas na correria. Por isso, será que elas poderiam ser melhores ou mais bem arranjadas caso vocês tivessem tido mais tempo ? Ou elas foram feitas para serem assim mesmo ?

Tarja Turunen: Acho que 10th Man Down é uma boa música. Tuomas teve boas idéias nessa canção e, além disso, ela funciona muito bem ao vivo, as pessoas parecem estar gostando muito dela. Já away é apenas uma balada, bem simples e singela. Não sei, acho que elas são boas músicas, foram feitas para serem assim. Poderiam ser um pouquinho melhores, mas nós temos que aceitar o fato de elas terem ficado como ficaram e nem pensar muito nisso. Temos que conviver com o fato. Pelo menos, tivemos algo para oferecer aos nossos fãs neste momento, enquanto estamos com nossas almas concentradas no próximo álbum, que começará a ser produzido em pouco tempo. Over The Hills And Far Away e essas novas canções serviram para dar um pouco mais de tempo para a gente.


Revista Rock Brigade: Vocês estarão tocando em alguns festivais europeus e posteriormente haverá uma pequena tour de divulgação do disco [N. do R.: essa entrevista rolou dia 1º de agosto de 2001]. Quais faixas dele serão executadas ?

Tarja Turunen: Apenas 10th Man Down e Over The Hills And Far Away. Creio que sejam essas as músicas que as pessoas estão interessadas em ouvir ao vivo.


Revista Rock Brigade: O encarte do disco vem com um desenho de um mapa-mundí, sobre o qual foram colocados pequenos desenhos simbolizando particularidades dos diferentes países. De quem foi essa idéia ?

Tarja Turunen: [rindo muito] Ah, você viu o desenho ? Ele ficou muito engraçado, não ficou ? A idéia foi de um cara que trabalha no setor gráfico lá da Spinefarm. Ele teve a idéia maluca e fez quase todos os desenhos.


Revista Rock Brigade: Estou perguntando isso porque o Ramones fez praticamente a mesma coisa na contracapa de um dos seus discos, Rocket to Russia. Vocês sabiam disso ?

Tarja Turunen: [surpresa] Sério ?!? Não, eu não sabia disso. E acho que os outros caras da banda também não. Ramones [N. do R.: ela pronuncia a palvra de um jeito muito engraçado, com sotaque finlandês, e eu começo a rir]. Não é uma influência do Nightwish [mais risos].


Revista Rock Brigade: Já existe algum material novo escrito para o próximo disco de estúdio do Nightwish ? Quando vocês pretendem lançá-lo ?

Tarja Turunen: Sim, já temos algum material pronto. Pelo que estamos vendo, vai ser um disco conceitual, uma idéia vai ser seguida a outra relacionada, que vai ter a ver com todas as outras. Ainda não posso dizer com certeza e também não posso dar mais detalhes, já que eu não sei exatamente como será o conceito no fim das contas. Você sabe, tudo é como um grande segredo para os outros integrantes do Nightwish, com exceção do Tuomas [risos]. Ele é o chefe, é ele que traz as idéias básicas de todas as músicas. Só depois disso entra o resto da banda, com os arranjos e idéias em geral, o que faz com que o resultado final seja de todos nós. Porém, ainda não posso dizer nada mais profundo. Provavelmente, vamos entrar em estúdio em janeiro. Daí pra frente, veremos o que acontece. O lançamento será na primavera de 2002 [N. do R.: nosso outono].


Revista Rock Brigade: Além do Nightwish, você também está envolvida com o Infinity, da Argentina. Como foi participar desse projeto e o que você pode dizer sobre ele ?

Tarja Turunen: Pra mim, fazer essa participação no disco do Infinity foi um grande passo e uma ótima experiência. Afinal, foi a primeira vez que fiz alguma coisa fora do Nightwish. Por isso, eu tinha que pensar muito cuidadosamente no que eu iria fazer fora da banda. Mas eu gostei das músicas [do Infinity]. Além disso, eu tive total liberdade pra fazer o que eu quisesse, o que me deixou muito feliz. O grande obstáculo foi que eu tive que fazer as gravações na correria, realmente na correria. Tive um dia, nada mais! Por causa disso, eu não fiquei totalmente satisfeita com o resultado. Aconteceu isso com todos nós [N. do R.: No disco do Infinity, além de Tarja, haverá participações especiais de Fábio Lione, Candice Night e Sabine Edelsbacher]. Não foi o esquema ideal, mas o resultado final ficou melhor do que eu esperava. Eu gosto do projeto e espero que haja um segundo álbum. Todos os músicos que se envolveram com ele gostaram do resultado, pelo menos foi o que eu ouvi. Foi legal, não me arrependo de jeito nenhum de ter participado.


Revista Rock Brigade: O Infinity é uma banda 'full time' e certamente sairá em turnê após o lançamento do CD. Você planeja cantar com eles em alguns de seus shows ?

Tarja Turunen: Nós já falamos sobre isso, mas é muito difícil de organizar. Seria possível pra mim encontrar algum tempo livre pra fazer pelo menos alguns shows, caso os outros vocalistas também possam fazê-los. Será trabalho árduo, mas acredito que seria possível de fazer, sim.


Revista Rock Brigade: O nightwish esteve no Brasil ano passado e fez dois shows excelentes, especialmente em São Paulo. Quais são as suas lembranças daquela pequena tour e do país em si ?

Tarja Turunen: Nós todos temos as melhores lembranças possíveis dos dias que passamos no Brasil e da turnê sul-americana de modo geral. Realmente as melhores! A excursão toda foi muito difícil. Como você deve se lembrar, eu estava doente [N. do R.: ver RB nº 169]. Por causa disso, houve bastante pressão sobre mim. Eu estava sozinha, doente e tinha que cantar bem todas as noites. Mas a recepção maravilhosa que nós tivemos compensou tudo isso, com sobras. Nós estamos realmente ansiosos para voltar, queremos tocar na América do Sul de novo o mais breve possível. Foi uma experiência especial para todos nós. Aliás, se você perguntar a qualquer um dos integrantes do Nightwish qual foi o melhor show de nossas vidas, todos irão responder: "São Paulo!"