E: Aqui estamos com Tarja Turunen. É ótimo te ver em Londres!

T: Obrigada por me receberem, um dia ensolarado em Londres, nossa!

E: Acabamos de perceber que hoje faz exatamente 3 anos do Metropolis Studio para o ACT II, 6 de Junho.
T: Sério? meu deus. Wow. O tempo voa. Sim, o que eu estive fazendo desde então? escrevendo. Viajando em tours.

E: Sim... Foi um processo, com o In The Raw? está preparada?
T: Sim. Eu não chamaria de um bom processo. Eu diria que foi um pouco doloroso. Acho que um pouco de dor é necessária para que algo de bom possa sair dela. Quando se fala de ser criativo. É doloroso, mas é uma boa dor. É um processo de limpeza. Quando acabei de escrever as letras para o álbum era o começo de fevereiro, e eu me sentia tão... vazia. Limpa. Ao mesmo tempo, sentia que nunca poderia escrever outra música. A música veio fácil dessa vez, foi a parte fácil, eu me sentia tão energizada, escrevia as músicas toda vez que voltava pra casa entre as tours, sentava no Piano, que é meu instrumento e... Isso foi fácil. Mas aí ano passado, no fim do ano, eu me sentia tão exausta, por conta de todas as tours, de não ver minha família muito... Me encontrei no dia de Natal em casa, e não estava preparada de movo algum para o Natal, e aí meio que me atingiu que eu precisava começar a escrever as letras do álbum, e eu não conseguia. Então eu precisei passar por isso, Janeiro foi um mês difícil, mas eu fico feliz de ter enfrentado, porque eu sinto que é o álbum mais pessoal que eu já escrevi.

E: Bom, e agora que você terminou e nós podemos ouvi-lo - bem, nós aqui pudemos ouvi-lo, o público tem que esperar até dia 30 de Agosto, certo? - agora que acabou, é satisfatório? você já está pensando em tocar essas músicas ao vivo?
T: É absolutamente... Eu ainda não consegui nem pensar sobre o assunto! é como... Não caiu a ficha ainda porque faz tão pouco tempo! eu ainda não comemorei! mas agora eu estou fazendo os festivais de verão, tocando o primeiro single, dead promises, já tocamos algumas vezes e tem sido ótimo, as pessoas estão recebendo bem e, sim, é emocionante.

E: É uma boa amostra do álbum, mas é um álbum com muitos sons, tem coisas bem dark, o piano, o coro...
T: Bastante orquestra... Você ouve Dead Promises e pensa que, uou, talvez seja o álbum mais pesado até agora, mas... é bem "na sua cara", mas é a ideia sobre o som da banda nesse álbum, eu queria que soasse bem cru. Eu trabalhei muito muito nisso com o Tim Palmer, meu engenheiro de mixagem, que mixa meus álbuns desde o segundo. Ele me conhece muito bem, são anos de jornada com ele, mas dessa vez eu disse pra ele "Tim, eu sei que esse não é o seu som, mas é até onde eu quero que você vá, se você estiver disposto a isso comigo", e foi bom ir lá. Agora finalmente sinto que a banda está lá para apoiar minha grande voz. Eu estive a frente de orquestras sinfônicas, como cantora, e eu tenho seu apoio, eu sinto o apoio de ter 80 pessoas tocando atrás de mim enquanto canto, eu sei que posso contar com eles quando o condutor os lidera. Mas esse mesmo sentimento tem que acontecer com uma banda de rock. E agora eu finalmente sinto esse apoio. Não me entenda errado, eu não tenho uma banda fixa, eu sou uma artista solo. Esses caras que estão comigo estão há um longo tempo...
E: Sim, o Alex por exemplo nas guitarras já está aí há quantos anos?
T: mais de dez anos! Então ele me conhece. Ele está lá, eu sei que posso contar com ele. Mas na questão sonora, eu finalmente sinto isso também, que eu não estou mais sozinha, eu tenho suporte.

E: Nesse último álbum o músico mais recente é Timm Schreiner. Nos últimos álbuns você teve 3 ou 4 bateristas...
T: Sim, tenho um novo, Timm está tocando no álbum, um ótimo baterista. Uau, foi interessante gravar com ele. Eu trabalhei com muitos bateristas, mas esse... foi interessante. Porque ele me entregou uma faixa... Eu deixei ele gravar, ele estava gravando na Alemanha, num estúdio que já tem familiaridade e tudo mais, e eu deixei ele gravar uma faixa só sozinho. E aquela faixa estava absolutamente perfeita. Ele me faz esquecer que é um take, é esse tipo de baterista. Depois disso eu voltei pra ele tipo "hey, então, eu sei o que você pode fazer, vai lá, me dá um pouco mais, agora com um pouco mais de liberdade" e ele me deixou boquiaberta! foi tão fácil! mas é quase inacreditável que eu encontrei um cara que veio praticamente do nada e está aqui, sem dificuldades... E não é um trabalho fácil, entrar e preencher esse lugar. Não é fácil.

E: você é uma artista solo, e agora olhando pra trás você está a mais tempo como artista solo do que parte de bandas. Você sente agora que deixou isso pra trás? que se consolida como artista solo, que encontrou seu som e sua identidade e é isso?
T: É, eu sinto mais ou menos como eu me senti quando a gente fez o álbum Once como banda. Foi um álbum importante. Eu sinto como se esse álbum fosse o meu Once. Até porque, mais pessoa do que isso... eu dificilmente acho que consigo. Goste ou não, é um álbum que precisava nascer, por mim.

E: Vamos falar de algumas faixas então, tivemos algumas pessoas ouvindo elas, e é um álbum ótimo do começo ao fim. Goodbye Stranger, com Cristina Scabbia do Lacuna Coil. É a segunda música e é ótimo o modo com que as duas vozes se combinam. Você já cantou vários duetos assim, como esse aconteceu?
T: Nós somos amigas há... Nossa... Acho que a primeira vez que a conheci na verdade foi em Londres. Muitos, muitos anos atrás. Nós sempre mantivemos contato, nos viamos aqui e ali, e nos ultimos anos mais recentes a gente vinha falando já de fazer alguma música juntas, e aí essa música surgiu. Naturalmente, como sempre, eu escrevi para a minha voz, eu sempre escrevo pra minha voz, mesmo que tenham cantores homens convidados e isso possa ser um desafio por conta disso... Mas com a Cristina, eu estava gravando meus próprios vocais quando comecei a sentir que poderia ser uma boa oportunidade de tentar isso com ela, aquela música parecia correta pra isso.

E: É uma ótima segunda track, me lembra algo como uma versão metal de Abba, com todo o respeito que eles merecem como uma banda importante
T: E é diferente porque não tem teclados, orquestração, nada, é só a banda e nós. Baixo, guitarra, bateria, e é isso. E é legal que nós somos cantoras bem diferentes.

E: E funciona muito bem. A próxima faixa, Tears in Rain, ela me lembrou muito a trilha de Blade Runner, foi de propósito?
T: Sério?! isso é fantástico! isso é tão legal! eu estou falando com as pessoas pela primeira vez sobre esse álbum então é muito legal de ouvir! Blade Runner, uau! não, na verdade a parte do coro...
E: Soa muito como Bowie, foi deliberado?
T: Sim, claro que foi!
E: É esse tipo de coisa que é interessante! Por que fazer a referência a Bowie?
T: Bem... Um artista importante para mim, e uma grande perda para o mundo da música, então eu queria fazer alguma coisa... Começou como um tipo de piada, mas não era nada... Aí eu senti que não, ia continuar nessa linha.

E: sobre a próxima faixa, Railroads... Estávamos falando sobre você encontrar seu som, e eu acho que essa faixa tem um pouco daquela coisa que Sarah Brightman costumava fazer tão bem, tipo em Fantasma da Opera, e um certo sentimento oriental também nela...
T: Letra bem louca... Essa música foi escrita muito tempo atrás, mas eu não ousei torná-la parte dos meus álbuns. Eu acho que não para o primeiro, mas estava escrita para o segundo. E eu a deixei. A letra não estava escrita, eu escrevi em janeiro, num momento de dor (risos). Ela também é inspirada por Paulo Coelho, que é um escritor bem importante para mim. Ele me inspirou várias vezes, só o jeito que ele fala sobre a vida, um abrir de olhos pra mim... Essa música, ela só te leva pra um lugar diferente quando você a ouve. E eu amo desafiar meus ouvintes com a minha música.

E: você também tem um histórico de gravar Covers, teve um do Muse no último álbum... você teve alguma influência externa nesse?
T: Hmmm, não particularmente, não em específico, mas obviamente que... Ennio Morricone, quando você ouve Golden Chamber, ele é uma influência, aquela música é só orquestra e voz.
E: E ela também tem uma parte em Finlandês.
T: faz muito tempo desde que eu tinha escrito em finlandês, e era hora de novo... Eu acho muito difícil escrever em finlandês, mesmo sendo minha língua materna, eu sinto que... nunca é o suficiente. É tão difícil, mas é importante.

E: Você não mora lá há anos, foi pra Argentina, Espanha, você ainda sente esse chamado para o seu país?
T: Claro. Eu estava contando uma história sobre um comercial que me pediram pra fazer, eu fui pra Finlândia gravar, eu não sabia o que ia acontecer, ele me deram fones de ouvido e colocaram música pra gravar minhas reações, talvez eu seja uma pessoa muito expressiva, não sei! mas em algum momento começou a tocar Finlandia do Sibelius, e eu imediatamente comecei a chorar, sem controle, não conseguia evitar. E obviamente me fez perceber que... Esse país que eu deixei tantos anos atrás ainda significa demais para mim.

E: Imagino. Outra faixa que eu gosto demais é Silent Masquerade, com Tommy Karevik do Kamelot. Como que essa parceria aconteceu? a combinação das vozes é simplesmente ótima.
T: Ele é um cantor incrível. Eu sempre segui sua carreira, o Kamelot, adoro sua voz. Foi bem tarde da produção que eu sentir que essa música precisava de algo mais, eu já tinha gravado meus vocais e percebi que precisaria de algo diferente, e queria que fosse ele, não sabia se ele aceitaria, como reagiria, mas ousei mandar uma mensagem e ele foi muito receptivo. Eu conversei com ele, tivemos umas boas conversas pelo skype, e aí eu tive que esperar, porque ele estava em tour, então eu estava "meu deus, será que vai dar tempo? será que ele vai conseguir?" e quando ele me entregou eram 40 tracks de vocais, e de novo eu chorei, eu estava tão feliz, foi tão emocinante ver ele trabalhando tão intensamente por uma música minha...

E: É um dos destaques do álbum com certeza na minha opinião. Logo você vai estar em um festival em que uma banda dele toca, e o Scorpions também, vocês cantaram juntos em The Good Die Young, teremos possibilidades de duetos?
T: (risos) seria legal, seria legal, eu não sei.
E: E o cantor original do Kamelot, Roy Khan, também vai cantar no festival com sua nova banda, o Conception...
T: Sim! Sim, eu sei. Eu li sobre isso em algum lugar e fiquei "yeah! é uma festa". É um bom festival, é a primeira vez que acontece, ali a costa da Andaluzia não é um lugar tão familiarizado com o rock, então eu fico feliz que está sendo um sucesso, quase sold out.

E: pra terminar, você tem datas agora na Russia, tem os festivais de verão... nós adorariamos te ver aqui de novo. Quais as chances?
T: estamos trabalhando nisso. Setembro estaremos na Rússia, Outubro na América do Sul, Novembro e Dezembro terei as tours de Natal pela Finlândia e um pouco da Europa e Rússia, aí estamos no fim do ano... Aí começaria a tour de novo em Fevereiro mas... terei uma tour de outro projeto que vocês conhecerão em breve , espero que gostem, é sobre rock também, mas... Vocês saberam em breve, não posso dizer. Mas fevereiro voltamos com a tour do In The Raw, espero conseguir vir para o Reino Unido e ver todos os meus lindos fãs aqui.