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O cinco de Agosto marca o lançamento do novo álbum de Tarja, The Shadow Self. Muito se tem dito sobre como Tarja tem criado um novo som, se afastando do sinfônico e se aproximando de algo mais pesado e mais limpo no rock, mas é só neste álbum que este processo se completa.

Em algumas músicas de seus álbuns passados eu tive a impressão de que eram só músicas de rock colocadas ao lado de sua voz, ótima como é, mas que me deixou sentindo falta de algo que entrelaçasse as camadas. Felizmente, não é mais o caso deste álbum. Você ouvirá mais instrumentos, ainda que não tão complexos (com exceção da óbvia peça de Chopin em Innocence), vocais e backing vocals, novos instrumentos, novas mixagens. Há muito mais do "sentimento de banda", como ela gosta de chamar, e as peças se encaixam bem.
Como tema principal, temos o vazio e a escuridão dentro de cada pessoa. O título de trabalho do álbum era "Black" até que Tarja descobriu uma entrevista com Annie Lennox mencionando o "Shadow Self" como o lugar de onde vêm as inspirações criativas. Fique tranquilo, não é um álbum deprimente, mas forte. Há músicas sobre natureza e músicas extremamente pessoais para Tarja, então é muito para absorver, mas vale a pena. Vamos falar das músicas que se destacam.


Começando pelas... Não tão ótimas.

Demons in You (feat Alissa White-Gluz) - essa música prometia muito, mas foi uma decepção. Alissa pode fazer tanto guturais como vocais limpos, e vimos muitas colaborações onde sua participação foi impecável. Esse não foi o caso. Seus guturais foram usados como backing vocals para Tarja, deixando de lado a força que geralmente tem. Seus vocais limpos foram tão mixados com os de Tarja que às vezes você realmente tem que prestar atenção para saber quem está cantando. É verdade que eu esperava algo mais na linha das colaborações de Alissa com o Delain ou o Kamelot, mais na linha de beauty and the beast, se permite. Mas a música foi só abaixo do esperado. Tarja convidou Alissa para cantar, e ela o fez, mas em algum momento muito foi perdido. Tenho a impressão que a versão final da música pode ter sido decepcionante para a própria Alissa. Não é uma música ruim - mas não é o que poderia ter sido.

Too Many - Enquanto essa música é realmente boa, com um refrão muito, muito grudento, realmente parece um tanto longa com seus 12 minutos e 50 segundos (e talvez até pareça um tanto longa dentro da música em si por conta dos instrumentais repetitivos e por vezes brandos) e isso ocorre porque depois da música em si há um grande silêncio (não o tipo que você esperaria que houvesse em uma música por motivos criativos) e outra música começa a tocar, sem introdução, sem nada. Sinto como se devesse ter uma explicação para isso. Não há conexão entre as duas que eu tenha notado. Talvez eu tenha deixado passar algo. Mas, novamente, se eu deixei, certamente outras pessoas se sentirão da mesma forma.

E agora sobre as melhores:

Diva. Você não pode não saber todos os significados da palavra "diva" quando se trata de Tarja. Levou uns bons anos, mas ela finalmente construiu uma música de vingança (passivo-)agressiva, e é tão boa. Para mim deveria ter sido o single, senão o título do álbum. Começa como uma espécie de valsa ou dança medieval, com a calmaria de sinos de Igreja, sons de água, pássaros e até algumas flautas. Sendo uma música elegante, passa ainda mais sua mensagem. Deixarei agora vocês com parte da letra, porque ela será debatida e compartilhada e adorada e é tudo que você precisa saber. "We can laugh at it now/ I don't mind all the burning daggers/burning me, piercing me, shaping me/ I revealed my escape/sweetest mutiny" "tasting the salt/couldn't stand all the rats on board/ I walk down the plank/as the curtain fell down on you"*. Não vou dizer, porque vocês já sabem sobre o que a música poderia ser (é). "Ship was sinking deeper and deeper/and deeper on top of you", e claro, é cheia de "Just look at me, a diva, diva". Peço desculpas se a letra não for cem por cento assim, já que não pude vê-la por escrito. Também é interessante notar que em algum ponto a música é interrompida por homens falando em sobre algo ser "lixo", em uma voz bem baixa que não se faz fácil de ser entendida. Mas o som da voz é bastante similar ao de um certo tecladista de uma certa banda.

*Podemos rir daquilo agora/ Eu não me importo com as adagas me queimando/ me queimando, me esfaqueando, me moldando/ eu revelei meu escape/ a revolta mais doce". "Sentindo o gosto do sal/não podia aguentar os ratos abordo/Eu andei sobre a prancha/enquanto as cortinas se fechavam sobre você". "O navio estava afundando mais e mais/e mais fundo em cima de você" e "Só olhem para mim, a diva, diva".

Supremacy - No cover do Muse ela nos mostra algumas de suas notas mais altas, sendo impressionantes tanto ao vivo quanto em estúdio. Também é uma ótima música, que traz consigo partes de famosas peças clássicas, como a segunda valsa de Shostakovich. Se você precisa de uma música que mostra porque todos pensam que Tarja é a melhor no que faz, essa é a música.

Undertaker - Uma música muito divertida, com excelente instrumental e vocais, e boa letra. Bastante épica e com cara de trilha sonora, uma espécie de orquestra feita de cellos, dando um ótimo tom solene à música. É única em comparação ao que ela já fez antes, com vocais agudos e muito limpos. Também é um pouco mais sinfônica que o resto, o que nos deixará bastante felizes.

Love to Hate - Esta certamente será uma das favoritas para muitas pessoas. Ela tocou ao vivo, e funciona, então continuem ouvindo, porque ela certamente será bastante tocada, seja em concertos, sites, ou com seus amigos compartilhando.

Sobre o resto, elas funcionam e compõem um ótimo álbum. Foi feito um bom trabalho em combinar tanto os elementos do sinfônico como do hard rock. É algo para uma audiência mais ampla, considerando que sua base, a dos fãs de sinfônico, são leais à obsessão.
Recomendo The Living End, outra boa, que vale a menção, e Calling from the Wild - que não é exatamente o que você esperaria pelo título, mas muito do que vocês já ouviram ao vivo.
O álbum vem de um lugar sombrio dentro de Tarja, mas é quase enfeitiçador por sua voz. As linhas vocais são incrivelmente desafiadoras, diversas e belas.
Sou fã de Tarja há muitos anos agora, mas sempre a submeti a maior análise crítica. Sou a primeira a dizer quando algo não está tão bom quanto poderia ser, mas dessa vez funciona. Fui positivamente surpreendida. O álbum é como um bom vinho, deve ser absorvido com cuidado, mas deve-se voltar a ele de novo e de novo para sentir suas novas partes, novos aromas, novos detalhes. Você verá muito dele, e gostará dele mais e mais.