Não há bela sem senão.

Após o atribulado despedimento dos Nightwish a vocalista TARJA TURUNEN regressa agora ao mundo das edições discográficas em nome próprio para demonstrar que o seu talento não residia apenas na parte interpretativa. "My Winter Storm" é o primeiro álbum a sério da carreira da vocalista finlandesa e cobre as várias vertentes do seu belo canto. A simpática diva falou-nos sobre o seu novo trabalho e declarou que quer regressar a Portugal porque gostou muito da passagem por Vilar de Mouros.

Estava absolutamente convencido que não gostavas de heavy metal... O que aconteceu?

O que é que aconteceu?! Porque é que perguntas isso? Eu nunca disse que não gostava de metal. [risos] Claro que não... Mas o "My Winter Storm" não é propriamente um álbum de heavy metal. De certa forma tem alguns laivos do género... Algumas canções têm de facto guitarras pesadas, mas outras são muito diferentes - são temas calmos, que funcionam quase como se fossem a banda-sonora de um filme. Mas eu nunca disse que não gostava de heavy metal. Do que é que estás a falar?

Para ser sincero fiquei com essa impressão pelo que ouvi e li dos restantes elementos dos Nightwish... Eles descreviam-te de uma forma que parecia indicar que não eras grande fã de metal, só isso. Relativamente ao álbum... Ainda só ouvi quatro temas, mas fiquei muito satisfeito com o que ouvi.

Obrigada. [risos] Acho que o álbum não pode ser categorizado. Quando comecei a trabalhar nele não me vi apenas como uma cantora clássica ou vocalista de metal, porque tenho feito tantas coisas na minha curta carreira musical... Mas, mesmo assim, não me enquadro numa categoria como cantora. Portnato, para um primeiro álbum não poderia fazer apenas um álbum de metal ou de música clássica. Por isso fiz algo diferente. A minha visão foi fazer uma banda-sonora imaginária, foi isso.

Podemos, então, dizer que aquilo que fazes agora não é muito distante daquilo que os Nightwish fizeram?

É muito diferente, tenho de confessar. Ouves-me a cantar no disco, mas o resto é diferente.

Quem é que te ajudou nesta jornada? Tens muitas pessoas a ajudar-te, não é?

Sim. Compus canções com outros compositores e sozinha - foi a primeira vez que passei por isso. Para ser muito honesta foi bom ter pessoas ao me lado a apoiar-me e a encorajar o que estava a fazer. isso foi algo que nunca experimentei antes na minha vida, era muito tímida para criar melodias e letras por minha conta. E não havia espaço para isso antes, sinceramente. No entanto, agora foi-me dada uma oportunidade, aceitei o desafio e aproveitei - fiquei muito feliz. No que diz respeito aos músicos, aquilo que ouvem no álbum são decisões que vieram de mim - fui eu que deidi com quem haveria de trabalhar nesta obra. E também tracei qual seria a direcção musical, claro... Apesar de ter composto as canções com outras pessoas. A visão e a imagem são 100% da minha autoria. Acho que isso é tão importante - meio por meio, talvez - quanto a música. Tal como nos velhos tempos, na década de 70, em que faziam álbuns conceptuais com um imaginário muito rico - embora este não seja um trabalho conceptual. No entanto, eu optei por manipular a iamgem... Que é muito forte. Foi bom e, sobretudo, foi muito divertido.

Achei interessante o facto de referires que nunca compuseste antes. Porquê só agora?

Bem, porque não havia espaço para isso... Nem oportunidade. Não havia ninguém com quem pudesse trabalhar e isso é um facto. [risos] Acho que nem sequer me deram uma hipótese.

Que estranho... A sensação que nos era transmitida é que eras tu que te punhas de parte.

Sabes... Há dois lados da moeda. [risos] Como em tudo na vida.

Tens o teu irmão a ajudar-te nesta aventura, certo?

Sim, o meu irmão mais novo vai ajudar-me nas digrssões como elemento integrante do grupo. No álbum fez parte dos coros na versão de "Poison" [do Alice Cooper], mas foi apenas isso... Ele pertenceu a uma banda de heavy metal na Finlândia - que não era conhecida, era apenas um projecto de amigos - e estava apenas em fase inicial. Cantava nesse grupo, mas o seu instrumento principal é a bateria. a guitarra ou as teclas. Tudo o que lhe puserem à frente, ele toca. Por isso, nas actuações, vai tocar bateria electrónica, teclados e também vai cantar comigo. Fazemos parte de uma família com tradição musical e toda a gente toca um instrumento... O meu irmão mias novo é baterista, mas também é uma excelente cantor.

E quem é a Michelle Leonard?

É uma das compositoras do álbum para além de mim. É de ascendência irlandesa e alemã, uma pessoa muito simpática. Foi muito interessante conhece-la porque aconteceu através da editora, foram eles que a sugeriram para colaborar comigo. Foi uma boa oportunidade para mim e trabalhar com ela no futuro. Compusemos "Lost Northern Star", "Calling Grace" e também deu uma ajuda em "Ciaran's Well".

O que é que te levou a escolher pessoas como Doug Wimbish [baixista dos Living Colour, Annie Lennox e Joe Satriani], o Mike Terrana e o Alex Scholpp [ex-Farmer Boys] para gravar o disco?

Tenho de dizer que escolhi os músicos pelo curriculum. O Doug tem uma vasta carreira - muito maior que a minha! - e tem trabalhado com muitos e diferentes artistas. Pelo som dele, carácter e personalidade escolhi-o para gravar o álbum. Sabia que tipo de som queria para o disco e ele foi uma combinação perfeita. E é um gajo porreiríssimo, tem uma óptima personalidade e é muito bom o facto de poder trabalhar com ele nas digressões - é uma grande ajuda, sem dúvida. Isso dá uma certa sensação de espírito de grupo. A opção pelo Alex também tem a ver com o seu passado, com a sua carreira e com aquilo que eu pretendia alcançar em termos de som de cada um deles. O Mike não tocou no álbum, foi o Earl Harvin que gravou a bateria. Vi um concerto dele na Argentina (com o Seal) e fiquei "vidrada" nele durante toda a actuação. Foi espantoso, é um excelente músico e extremamente dinâmico, precisamente aquilo que queria para o disco. Infelizmente não pode fazer as digressões comigo porque já tinha outro compromissos, por isso liguei para o Mike Terrana... O Mike é um velho amigo e sempre esteve disposto a trabalhar comigo. Já tinhamos falado nisso há alguns anos, aliás. Agora deu-se a oportunidade.

Penso que a canção "I Walk Alone" é uma afirmação de que está afastada dos Nightwish... Ou será uma forma de anunciar que vencerás sozinha? Ou um pouco de ambos?

Hmmm... Ou nenhuma delas! [risos] Na realidade não é nenhuma delas. Já me perguntaram isso várias vezes e é claro que parece uma declaração desse género, mas não é. A canção tem um significado especial para mim, mas para ser sincera nunca senti que estava a caminhar sozinha. Houve muita gente a rodear-me e a dar-me apoio. Foi desse tema que tamb+em retirei o nome do álbum, "My Winter Storm". Pode dar também a impressão de que é um título negativo, mas tem um significado muito pessoal para mim. Foi algo que entendi a partir das letras: "My winter storm, Holding me awake. It's never gone." Quem é que me tem mantido acordada? E quem é que nunca me abandonou? São as pessoas em meu redor. Todo álbum é dedicado aos meus fãs e aos meus amigos que sempre me apoiaram durante muitos e muitos anos. Eles são a minha tempestade de Inverno. E "I Walk Alone" não é uma declaração.

"I Walk Alone" tem várias remisturas, não é?

Foie xcelente... O Chris Reinhart foi ter omigo a Los Angeles, onde estava a misturar o álbum. Ponderámos sobre a hipótese de ele fazer uma remistura do tema e apresnetou uma "cena" bem louca com sons electrónicos. Gostei muito disso, foi um toque especial. Por seu lado, os InExtremo fizeram ma versão folk do tema que também ficou muito boa. É extremamente interessante ver que muitas pessoas podem ver a música de formas diferentes...
Quem é "Ciaran"?

Na realidade é um poço sagrado que fica perto do estúdio onde gravei na Irlanda. A Irlanda é muito rica em histórias para além do próprio país e todos os mistérios e magias. Este poço de Ciaran inspirou-me para fazer uma música sobre a Irlanda - quer dizer "Poço Negro". Foi apenas uma fonte inspiração.

E porque é que escolheste fazer uma versão de "Poison", do Alice Cooper?

Isso surigu como uma brincadeira. Estava numa longa viagem de 400 quilómetros na Finlândia a guiar o meu carro e estava a ouvir um rádio rock que tocou o tema do Alice Cooper 5 vezes nesse dia Como tinha de decidir que versão fazer para o meu disco debatia-me com várias possibilidades e não conseguia chegar a uma conclusão... De repente, fez-se luz. [risos] Seria uma loucura uma mulher cantar aquela música por causa das letras e da lendária inspiração por detrás daquilo tudo, mas quis fazê-la mesmo assim. É genial e é um clássico, mas tive de encaixar no resto do álbum e na minha personalidade como cantora. Deu muito trabalho e não foi fácil, mas é uma grande malha... Divertimo-nos muito com ela.

Que opinião guardas do Tuomas? Continuas a considerá-lo um amigo ou apenas uma pessoa que foi importante na tua vida?

Bem... Foi um colega de banda, durante nove anos. Pertence ao passado... Foi uma ligação na vida e não temos nenhum contacto actualmente.

Como é que olhas para o teu passado com os Nightwish?

De forma muito positiva. Tenho de confessar que tenho orgulho no meu tempo com os Nightwish. Foram nove anos e muita boa música surgiu deste período, sou muito positiva acerca disso. Claro que houve momentos que não foram fáceis, nas não quero pensar nessas alturas porque houve outros momentos que foram muito mais importantes na minha vida e muito mais simpáticos para serem saboreados - a música foi, sem qualquer dúvida, a força dos Nightwish. Nunca foi um problema nos Nightwish e continua a não ser... Sinto-me positiva acerca disso.