Duas Tarjas

  Tarja Turunen, 34, cantora.

   Enquanto a cantora Tarja Turunen sobe ao palco tarde da noite, a outra Tarja Turunen está fazendo sacolas plásticas em uma fábrica, trabalhando em três turnos. As duas adoram suas próprias camas.

   (legenda da foto): Tarja Turunen gosta de correr. Há algum tempo ela perdeu-se durante uma de suas corridas em um parque na Rússia, e foi repreendida pelo guarda.

  “Era para eu ter recebido um nome completamente diferente, até o dia em que fui batizada; meu pai conseguiu fazer do jeito dele no último minuto! Já que ele se chama Teuvo, e meu irmão mais velho se chama Timo, ele achou que meu nome deveria começar com “T” também. Minha mãe, Marjatta, queria me chamar de Marjut, Marketta ou Mari, mas ela teve que ceder.”

  Só encontrei outra Tarja Turunen uma vez; quando estava estudando em Kuopi, minha xará entrou em contato comigo e me perguntou o que ela deveria fazer com as cartas de fãs que havia recebido. Tenho pequenas xarás espalhadas pelo mundo; recentemente, uma mãe da Argentina me contou por e-mail que ela batizou a filha com meu nome. Existem também três pequenas Tarjas na Bélgica, Romênia e Alemanha.

  Quando casei com o meu marido, Marcelo Cabuli, ele fez questão que eu não abrisse mão do “Turunen”. Pessoalmente, ter desistido do meu sobrenome de solteira, não teria sido grande coisa. Meu nome artístico agora é só “Tarja”.

  Moro em Buenos Aires, Argentina, geralmente por períodos de três ou duas semanas ao ano; a outra parte do ano eu passo em turnê com meu marido, que também é meu empresário. Amo nosso estilo de vida, mas não gosto de ter um travesseiro novo toda noite. Isso estressa o corpo. Quando chego em casa, a primeira coisa que eu faço é pegar o esfregão, e colocar roupas na máquina de lavar. Faxina é terapia para mim. Também sinto falta da minha máquina de café expresso enquanto estou viajando.

  Em Buenos Aires eu nado na piscina do prédio, e vou de elevador para a academia. Frequentemente sou reconhecida na rua, mas eu consigo ir correr vestida do jeito que eu quiser. Na América do Sul, um fã vai dizer-lhe “olá”, e não simplesmente sussurrar no ouvido do amigo “é ela!”.

  Quando estou em casa também mantenho minha voz e minhas composições em dia. Neste outono passarei uns meses na Argentina, já que estou me preparando para o lançamento do meu álbum clássico.

  Eu não consigo me imaginar voltando para a cidade aonde nasci Carélia do Norte, Kitee. Eu gosto do movimento, do colorido e da espontaneidade de Buenos Aires. Quando quero ir para o cinema, encontro meus amigos à noite.

   Nós não temos uma casa na Finlândia, só uma casa vazia em Kouvola. Quando vivíamos lá, tínhamos boa sorte com amigos! Nós formávamos um grupo com mais quatro casais. É engraçado que, nenhum de nós tem filhos, enquanto todo mundo ao nosso redor está se reproduzindo.

  Seria tão bom ter uma “pessoinha” no meio de tudo isto. Arte e carreira são a minha vida, então nossa vida não pode mudar radicalmente. Não acho que poderia ficar em casa com o bebê.

  Estou com Marcelo há 11 anos. Embora estejamos sempre juntos, o rosto do outro não incomoda. Somos almas gêmeas, e temos um relacionamento bem equilibrado. Seria horrível ter que viajar sem o Marcelo. Eu sei o quanto sentiria saudade dele, porque, no começo do namoro, nós ficávamos separados por muito tempo.

  Sinto falta da certeza do futuro na vida. Eu me estresso muito com as coisas por antecipação. Felizmente, Marcelo me faz voltar ao chão bem rápido. Eu espero que, daqui a dez anos, eu tenha crescido como cantora clássica, e tenha aprendido a acompanhar esse nosso estilo nômade de vida.

   E quanto a outra Tarja?

   Eu, provavelmente, não teria conseguido aguentar esse trabalho de três turnos na fábrica. Sou um pouco preguiçosa. A similaridade dos dias de trabalho com certeza teria sido difícil. Viver um dia diferente do outro combina mais com a minha personalidade criativa.