Tarja Turunen não é indiferente
“Foi tão, mas tão triste a eliminação da Argentina do Mundial”
A cantora de Helsinski – nórdica por excelência – apresenta What Lies Beneath, um álbum que fecha uma etapa de árduo trabalho e desmente aquilo que ela disse ao NO em 2002, que não se via “cantando metal aos 40”. “Agora estou mais segura do que nunca”, corrigi-se.
Por Luis Paz
Acabo de saudar Tarja (pronuncia-se Taria) que se levanta rapidamente em direção a um escritório no décimo terceiro andar de um edifício em Belgrano. Sem olhar o jornalista, ela afasta-se para o outro canto da sala. Será que o desodorante falhou nesta calorosa tarde que anuncia a primavera? Não, certamente não! A ex-vocalista do Nighwish se distancia para chegar ao frigobar que não tinha percebido. “Quer água?”, pergunta num espanhol perfeito, olhando-o profundamente. E só podemos responder “hmm, claro, porque não?”. De gótica e enigmática só tem o vestido. Tarja (pronuncia-se Taria) é uma doçura de salto alto, divertida, amável e acolhedora, e acima de tudo era um bom dia. “Hoje estou feliz”, conta ao NO numa segunda-feira “porque vencemos o Boca”. A finlandesa se refere a San Lorenzo, u mtime da qual é fã. E quando não estamos muito animados para falar da Seleção Argentina e sua desempenho na África do Sul, compartilha com a gente o sentimento: “Foi tão, mas tão triste a eliminação da Argentina do Mundial. Fico feliz pela Espanha, porém Argentina devia ganhar. Vimos o jogo contra a Alemanha no aeroporto de Helsinki e havia cinco ou seis caras, alemães gritando horrores sobre Maradona quando o jogo terminou. Eu queria voltar e brigar, juro, mas não teria sido boa coisa”. Bem, com a Espanha, na terça, teve sua vingança.
Tarja é finlandesa, é casada com um argentino faz alguns anos, seus dias são divididos entre Helsinki, Buenos Aires e qualquer outra país em que cante, e é poliglota. Mas é também uma excelente cantora que na segunda-feira coloca nas prateleiras seu novo álbum solo What Lies Beneath, escrito e produzido por ela. Está organizando, para Março, algumas datas em Buenos Aires (no Gran Rex, finalmente um lugar onde sua música terá ótimas condições de som), Rosario e sua primeira vez no Uruguai. Sobre seu segundo álbum solo, comenta: “É um álbum muito amplo, acho que é a melhor palavra para defini-lo. Escrevi todas as canções, num momento muito pessoal e de muita inspiração. Além disso produzi este álbum, então realmente sinto como se fosse meu bebê e estou muito orgulhosa dele” faz seu balanço a artista que já tinha conversado comigo, nas suas visitas com o Nightwish, como solista ou nas Noites Finlandesas, que trouxe a Buenos Aires artistas líricos de seu país, que desejam passar sua aposentadoria na música em Miramar.
Alguns dias na praia não lhe fariam mal, porque vem trabalhando duro no What Lies Beneath.”Foram dois anos de trabalho nos quais não teve um dia que não pensei ou fiz algo para o álbum, além dos shows (do álbum anterior, My Winter Storm) e realmente me custou fazer esse álbum” revela. Sem dúvida não foi nenhum peso, senão algo parecido como uma missão, uma resposta que acha que deve dar por sua condição de artista e de sua voz que desperta interesse por diversas razões: “É importante que tenha o tempo para pensar no que quer alcançar e que coloque todo seu esforço nisso. Conceitualmente, este álbum tem temas simples e muito sensíveis, nos quais não digo muitas coisas além de desenvolver minhas idéias e canções de uma forma tranqüila e gradual, mesmo com um monte de trabalho sobre ele. Foi um álbum muito exigente e me sinto meio livre sabendo que está pronto e logo estará disponível”, analisa o processo esta morena pálida, de olhos penetrantes e voz única.
Tarja já lançou um single deste álbum, Falling Awake, em vinil, mas apenas para o mercado britânico. No entanto, em seu site oficial (TarjaTurunen.com), a soprano permite escutar um minuto e meio de cada canção do álbum. Nesta ponte entre o novo e o romântico, ela sabe que está a mercê da tecnologia, “a humanidade vive um momento muito estranho e veloz”.”Lembro da agonia da espera para receber uma resposta de uma carta e como isto hoje parace algo pré-histórico. As cartas! Emails e celulares mudaram a relação de comunicação entre as pessoas, terminaram com o momento de espera e isto fez com que muitos ficasses rápidos e animados com a vida. Mas acredito que é importante encontrar tempo para se desenvolver. Por isso decidi fazer as coisas como antes, como construir as coisas reais e não virtuais. E assim levo muito tempo para organizar as coisas. E é algo que não te permite parar nem repetir.
- Como o mundo, a Argentina também mudou desde que a conheceu até hoje. Que mudanças você notou aqui em Buenos Aires?
Tarja: A situação é muito diferente quando vim em 2002, vejo que tudo está mais violento e as pessoas estão mais paranóicas. O que sempre me cativou em Buenos Aires é essa mistura de imigrantes, de culturas. É uma cidade maravilhosa onde, como agora, você tem a chance de sair do prédio e ir tomar um sol nesta praça, isso não se tem em qualquer lugar. Mas a rua também está violenta, não?
- E comparando com a Finlândia?
Tarja: Olha, ficamos em Jujuy, em Salta, em Mendoza e na costa, e algo que me surpreende é a forte figura da mãe para os argentinos. Na Finlândia, os direitos da mulher são muito respeitados e realmente as cuidam, mas não temos essa coisa tão forte em torno da mãe, que aqui é como uma instituição suprema, mesmo que muitas vezes as mulheres estejam numa situação injusta em relação aos homens. Na realidade, aqui são bem familiares e isso é belo: juntar-se nos domingos para comer, para os aniversários. Na Finlandia tu tens sorte se toda sua família se reúne para passar o Natal e Ação de Graças.
- Em 2002, comentou ao NO que não se via cantando heavy metal aos 40 anos. Lembra disso?
Tarja: Disse que não? Sério? Ah meu Deus, não falta muito para os 40. Como mudou a vida! Deus, acabou de me deixar nervosa. É interessante que tenha dito isso. Foi em 2002, não? Bem, hoje pode dizer que me sinto muito confortável, desapareceram as fronteiras entre os gêneros e acho que a música é uma simples busca e para mim não há só canções de heavy metal, também há o lírico e outras coisas.
- Então, como se diz aqui, há Tarja por um tempo?
Tarja: Definitivamente! Quero continuar fazendo música por muitos anos e não só até os 40, mas bem, te disse em outro momento, estava com o Nightwish, era minha primeira vez aqui. Agora estou mais segura do que nunca sendo uma cantora.Então...vou continuar!