Senhoras e senhores, sou Derek Soto, do Bloodlines; estamos agora mesmo no hotel Henry, com Tarja.

D: Tarja, como você está hoje?

T: Obrigada por me receber, estou me divertindo bastante.

D: Hoje você teve um dia longo. Acordou cedo, depois de um show na noite passada.

T: Sim, em Nova York. Está chovendo aqui, meu deus, o que está acontecendo? (risos).

D: a temperatura foi de 95°F para 55°F

T: Sim, eu ouvi, inacreditável! Mas sabe, estou me divertindo muito, o show da noite passada foi maravilhoso. Um público incrível, muita diversão e pura emoção.

D: Pudemos ver isso em uma foto do público (...). Vamos à primeira pergunta

T: Sim.

D: Act I, seu primeiro álbum ao vivo, foi lançado há 6 anos.

T: Sim

D: Você fez isso em 2012; gravou dois shows: um em Rosário, na Argentina; neste ano você lançou, em 26 de julho, o Act II. Há muita coisa nesse álbum maravilhoso. Os shows foram gravados em Milão, na Itália, e em Londres, onde você fez uma performance intimista para os vencedores selecionados por um concurso. Há recortes do Hellfest, do Woodstock, entrevistas inéditas; fotos que suponho que são do Tim Tronckoe, de quem sou fã...

T: Eu também!

D: ...tudo isso está disponível. Você juntou muito material durante os shadow shows. O que faz essa compilação tão especial para você? Além do palco, como foi participar da produção do que é literalmente sua mídia?

T: Você pode achar que trabalhar na produção de um álbum ao vivo não leva tanto tempo assim para um artista, mas para mim uma gravação desse tipo é tão importante quanto uma no estúdio. Isso é muito importante para mim porque, em primeiro lugar, mostra como estou no momento, artisticamente; para meu público que ainda não pode ir a um show e para aqueles que já foram...

D: Você quer que seu público veja cada detalhe.

T: Isso. Eu tive a oportunidade de, como você mencionou, fazer um show bastante intimista em Londres. Foi uma experiência incrível porque você nunca consegue fazer isso se não for no aniversário de seu irmão, com a família...eu não faço esse tipo de coisa naturalmente. Foi muito especial e emocionante cantar para os fãs, que estavam bem perto de mim, naquele ambiente pequeno. Além disso, cantar no Woodstock, para meio milhão de pessoas...o Act II tem pouco mais de oito horas de material gravado, então você pode imaginar quanta edição de material precisei fazer...levou muito tempo. Eu trabalhei nisso diariamente, por seis meses, em minha casa. Obviamente junto às pessoas que trabalham comigo: Tim Palmer, engenheiro de mixagem, outras pessoas que trabalham com vídeo também participaram...uma equipe muito talentosa. Eu não trabalhei sozinha, mas a palavra final foi minha. Esse é o ponto, sabe? Você acha que o artista não trabalha na produção, como eu faço, mas estou presente em todos os momentos do processo porque eu quero e preciso. Eu respiro isso, é minha arte, eu quero manter...

D: Absolutamente. Dos seus shows, há digi pack, dvd, vinil, blu-ray, graças a deus (...), porque eu posso completar minha coleção. (...) Olhando em retrospecto o trabalho de outras mulheres notei que você põe muitos detalhes e muito de você nesse trabalho (...). Vi o blu-ray retrospect, do Epica; o da Doro, em comemoração aos 30 anos de carreira dela (...) eu adoro a quantidade de material que você colocou no Act II, é possível mergulhar em seu universo. Eu estou tendo a rara oportunidade de sentar com você e sei que quando eu for assistir ao show ou ouvi-lo, terei uma perspectiva melhor de quem você é como artista, das pessoas que estão à sua volta, o que é algo maravilhoso e raro, ao menos em minha opinião.

T: Sim. Eu quis fazer o Act II artisticamente para que você, em sua sala, pudesse experienciar as emoções de um show ao vivo. Por isso as fotos, na pós-produção, no show, todas aquelas fotos maravilhosas que o Tim fez. Meus fãs também fizeram fotos lindas em todos os shows pelo mundo...eu quis que tudo isso estivesse presente, porque cada show é único, cada público é único, cada ambiente...se você filma um único show, talvez não seja o melhor. Se você me perguntar qual o melhor show que já fiz, não vou saber responder.

D: Não dá para perguntar isso (risos).

T: É muito difícil responder esse tipo de pergunta, sobre trabalhar em um show em especial e fazer aquela noite acontecer...

D: É impossível

T: Sim.

D: Falando sobre shows e sobre você estar viajando pelo mundo, bem-vinda de volta à América!

T: Obrigada!

D: Eu estava esperando isso acontecer. Noite passada você cantou no Gramercy Theatre, em Manhattan e esteve reunida com seus fãs de longa data. Como foi o primeiro show de volta ao solo Americano?

T: Antes de tudo, obrigada por ter me recebido e obrigada pela paciência.

D: É claro!

T: Não é como se...foi difícil voltar como artista solo, carregando toda a responsabilidade sozinha. Eu não tenho uma banda; eu trago um grande grupo de pessoas comigo, não é fácil cruzar continentes.

D: Mas valeu a pena esperar, isso é um fato.

T: Obrigada! Eu vivi algo muito especial no show de ontem, assim como em toda essa turnê. Tenho certeza que acontecerá o mesmo em L.A., sexta-feira

D: No teatro El Rey?

T: Sim, correto. Eu sou muito grata, pois meus fãs me apoiam e têm sido muito leais há anos.

D: Como você está viajando pelo mundo, como foi gravar o the shadow self e o the brightest void em vários lugares? E como isso afetou a gravação dos dois álbuns?

T: Bem, tudo que experienciei em minhas viagens, no geral; tudo que escrevo em minhas músicas tem algo a ver com minha vida, é natural. Eu não conseguiria escrever...talvez eu talvez conseguisse escrever uma música por uma perspectiva que não me toque pessoalmente, para uma trilha ou algo assim, mas não seria real para mim. Eu preciso dessa...subjetividade ao escrever. Naturalmente, quando eu canto minhas músicas para o público pelo mundo eu tenho um feedback, eu quero ter esse feedback dos meus fãs, eu adoro isso. No geral, é muito importante carregar essas experiências no meu interior, porque elas definem quem sou hoje. Eu não estaria aqui conversando com você, eu não seria a mesma pessoa sem toda a jornada pela qual passei...tem sido ótimo, mas duro, sabe? Não é um trabalho fácil viajar pelo mundo...as pessoas dizem “ah, você pode conhecer tantos lugares bonitos pelo mundo”, mas na verdade não dá para ver muito (risos).

D: Você fica muito reclusa nos locais dos shows.

T: Sim

D: Tem sido insano para você, na última década, com a quantidade de trabalhos que foram lançados, com o que ainda virá...você fala disso como capítulos.

T: Sim.

D: Para você, pessoalmente...tudo muda, as pessoas, os lugares...tudo está em um pacote, então você vai para outro e recomeça novamente. Então, como você planeja sua vida?

T: Eu preciso organizar porque sou uma artista que trabalha em casa, mãe de uma criamça de seis anos...é um trabalho de 24 horas, como separar a vida artística da familiar...elas estão, no geral, muito unidas, porque quando estou em casa, não quero ir a lugar algum; estar em casa é meu céu, então eu trabalho e gravo em casa. Tudo acontece em casa. Sou muito abençoada por ter um lugar onde me sinto livre para criar minha própria arte. Ainda assim, quando estou sozinha como artista, carregando todas as responsabilidades, é difícil, mas eu realmente aprecio a liberdade que tenho hoje. Esses episódios, essas...eras precisam ser planejadas cuidadosamente, porque tenho muito o que fazer.

D: É visível. Você é artista, mãe, esposa...é muito para conciliar. Você me encantou com a performance de ontem a noite, foi tipo “estou no palco, vou esquecer tudo e me divertir”, e foi exatamente o que você fez.

T: Sim

D: Nas últimas entrevistas concedidas na Europa, você falou sobre o lançamento de um álbum depois do the shadow self. O que você pode nos dizer sobre ele, sobre a produção...quais as diferenças ou semelhanças com o lançamento de 2016? Você já pensou sobre isso?

T: Sobre o novo álbum? Sim. Não posso dizer muito a respeito, mas definitivamente tenho escrito músicas, muitas músicas, na verdade. Tenho mais músicas que o necessário. Estou trabalhando nas letras, no momento. Eu acho que ele é talvez mais sombrio que o anterior, talvez...Talvez um pouquinho mais pesado que o shadow self, sem esquecer o lado symphonic e o clássico, meu primeiro amor na música; eu nunca vou fugir disso, seria uma mudança radical, mas sempre há mudança em um novo álbum (risos).

D: Eu não consigo imaginar e mal posso esperar por isso. Falando de sopranos finlandesas, você está em uma liga própria, ao menos eu diria. A quantidade de cantoras está crescendo, de diversas idades, diversos gêneros; o mundo tem visto mais e mais mulheres na música surgirem, com muitos desafios envolvendo a internet, vendas e diversidade em 2018. Qual a importância de mostrar ao mundo que deveria haver mais mulheres na música?

T: Eu sempre fui muito respeitada como cantora no metal ou, de modo geral. Como mulher na música, sempre apreciei o respeito de meus colegas homens e de minha audiência pelo mundo. Nunca sofri por ser uma mulher durante as turnês... Talvez os primeiros anos tenham sido difíceis pra mim, tentando manter a sanidade em toda essa loucura e, novamente, me manter saudável, o que, para o tipo de cantora que sou, é o mais importante, porque meus vocais são puros, limpos. Eu realmente preciso cuidar do meu instrumento, que também é meu corpo, então isso requer um trabalho diário e quando estou em turnê é difícil; mas falando sobre respeito, nunca precisei mostrar mais do que tenho, talvez por causa da minha voz, ela é poderosa o suficiente para que as pessoas me aceitem. Eu não sei as reais razões para isso, talvez uma outra é porque eu sempre fui muito verdadeira...

D: Você sempre disse a verdade, foi verdadeira sobre você mesma...

T: Verdadeira para com o mundo do metal, da música clássica; eles nunca colidiram em minha vida. Não o clássico...você sabe, pessoas que tiveram educação clássica, todos os professores com quem trabalhei em meu passado foram sempre muito respeitosos comigo, porque fui verdadeira com eles. Sempre serei muito clara sobre o que estou fazendo, como estou fazendo, trabalhando duro. Quando você faz seu trabalho suficientemente bem, as pessoas...não há necessidade de palavras, elas veem por elas mesmas.

D: A arte fala por ela mesma.

T: Exatamente. Então, eu acredito que as mulheres no metal...antes de tudo, eu fico muito orgulhosa por haver tantas mulheres. Sinto-me honrada por ter falado com muitas delas, que dizem me ter como modelo. Eu vi alguns covers de minhas músicas feitos por algumas delas e também por cantores homens...é incrível quanta beleza existe no mundo da música e quantos artistas você pode inspirar com seu próprio trabalho, com sua...

D: Influência...

T: É música, são emoções. Todos ouvimos música de maneiras diferentes, com perspectivas pessoais, então...música é emoção.

D: Eu falei com Daniel Tompkins, do Tesseract, sobre isso e comentamos sobre emoção, a influência está lá. Toda a jornada de encontrar tudo isso individualmente é o que os músicos fazem, é o que nos faz quem somos...

T: É assim com tudo.

D: O público canta junto, te acompanha...você pode estar entre dez pessoas ou dez mil que cantam suas músicas, que são tocadas pelo que você faz.

T: Sim. Um fato interessante é que quando sento para escrever uma música eu não penso em nada disso. Eu escrevo para mim, porque preciso concluir aquela música em particular ou porque há uma razão para fazer aquela música...é para mim. Depois, se alguém achar essa música importante é um presente inacreditável. A música me ajudou de todas as formas em minha vida, ajuda crianças em terapia, ajuda pessoas com depressão...

D: É uma ferramenta poderosa.

T: Muito poderosa.

D: São ideias. Por falar nisso, eu quero saber, por último, se há alguém no radar com quem você gostaria de trabalhar na música ou...em algo?

T: Há tantas pessoas! O mundo é cheio de lindos artistas e bandas. Tenho muita sorte de já ter trabalhado com artistas incríveis, de diferentes tipos e bandas. Mas sim, um dos meus maiores ídolos ainda é Peter Gabriel. Eu o encontrei uma vez e eu estava tremendo...ele estava usando galochas, era um dia chuvoso, em Dubai. Fui falar com ele nos bastidores e foi... ele seria o cara! (risos).

D: É isso. Ela tem um sonho, é Peter Gabriel.

T: Todos tem sonhos! (risos)

D: Estou feliz por saber disso. Uma última pergunta, vamos manter Peter Gabriel aqui por dois minutos. Você estará em turnê no outono, com stratovarius e em muitos festivais em 2019.

T: Sim.

D: Você voltará para os Estados Unidos próximo ano?

T: Não posso prometer, mas estou trabalhando nisso. Haverá uma turnê do próximo álbum, certamente, então vamos manter a esperança e os dedos cruzados para que eu possa voltar. Serão pelo menos dois anos de turnê com o novo álbum.

D: Eu estarei em Nova York, com certeza, talvez te entreviste novamente!

T: Muito obrigada por me receber.

D: Obrigado, me sinto honrado por ter conversado com você. Agora posso ir para casa e ouvir Peter Gabriel.