E: Obrigada por ser tão generosa e aceitar fazer a entrevista.
T: Para, não, o prazer é meu!


E: Por favor, nos conte um pouco sobre o começo da sua jornada musical.
T: Desde que eu era uma pequena criança eu queria fazer música. Era minha paixão, eu era meio que... Diria até obcecada com música. Eu quis começar a estudar o piano quando tinha seis anos e depois disso meus pais me deram muito apoio e me levaram para vários tipos de escolas de música. Então a música preencheu toda minha infância, minha adolescência, meu crescimento como mulher. Eu estudo desde que tinha seis anos, música clássica.


E: Você mudou da clássica para o rock, como foi a transição? E vice-versa.
T: Bom, pra mim foi um grande desafio. Ainda é um grande desafio, cantar rock, porque eu nunca pensei em me tornar uma das cantoras de rock mais seguidas do planeta, nunca, nunca pensei nisso. Mas eu aceitei o desafio porque amo a música, e para mim é tudo sobre isso. Não há barreiras na música em geral, quando eu estou fazendo algo, estou fazendo com meu coração. Se me sinto bem sobre algo, irei fazer, 100%, estou lá. E isso tem sido minha paixão na música em geral, me sentir livre. Mas a transição levou tempo. Levou anos até eu me sentir confortável com a minha voz, com as performances, com ficar correndo pelo palco... Eu queria fazer meu melhor. Eu trabalhei muito duro, mas eu não tinha um professor que pudesse me ensinar a cantar rock. Eu continuei tendo aulas de canto lírico, e isso é o que me fez mais forte, também, no rock.


E: Como você enfrenta os novos desafios no cenário do Rock? é importante estar sempre um passo a frente?
T: Sim, nesse sentido para mim que... Eu sou uma artista, com uma carreira, uma carreira que é bem versátil, com vários projetos diferentes acontecendo ao mesmo tempo - eu sou meio viciada em trabalho, acho que pode me chamar assim, porque eu estou sempre fazendo algo, sabe? Não consigo ficar sem fazer nada, eu realmente... Eu amo música, eu amo trabalhar, eu amo a liberdade que tenho hoje como artista... Então nesse sentido acho que você pode dizer que eu gosto de estar um passo a frente.


E: O que te inspira para criar música?
T: Muitas coisas. Em geral, minha vida me inspira, as jornadas que tenho com a música, ou com minha família. Ou as coisas que eu vejo, as coisas que me surpreendem, ou me incomodam. Coisas positivas e negativas da vida, em geral. Livros do Paulo Coelho, que eu ainda leio. Na música ouço coisas bem variadas, trilhas sonoras, rock, metal, ouço pop em geral, adoro bandas como Muse... Sempre mantenho minha cabeça bem aberta quando se trata de música.


E: O que te dá forças pra ser explosiva e selvagem?
T: (risos) Eu sou selvagem? Bom, é, sou quando se trata das minhas performances de rock, você me vê no palco... sou uma garota selvagem. Eu amo essa liberdade que o rock me deu. É como minha mão esquerda, sabe? É o que me diverte. E música clássica é como minha mão direita - me dando força, me fazendo trabalhar mais, minha voz e fisicamente, preciso me manter em forma. São duas coisas que estão muito bem equilibradas na minha vida hoje em dia. E eu adoro essa harmonia que eu fui capaz de criar. Então aquela "garota selvagem" em mim talvez seja somente... A extrema alegria que eu sinto nos shows, com a minha banda, com meu público. É incrível. É tão lindo poder fazer música!


E: Do que sua música geralmente trata e o que música em geral significa pra você?
T: Minha música em geral fala da vida, uma vida cheia de sonhos, eu escrevo muito sobre sonhos, porque eu ainda os tenho e tenho um trabalho dos sonhos, nesse sentido. Eu sempre continuarei sonhando e encorajo as pessoas a fazê-lo também, seguir seus corações e sonhos. E não só sobre isso, claro, há coisas bem pessoais na minha música também, que eu nem quero ter que explicar, porque eu quero que as pessoas sintam o que quiserem sentir quando ouvem a minha música. Talvez eles encontrem seus próprios significados para as minhas músicas. Esse é o objetivo final. E música, para mim, significa minha vida. Foi meu primeiro amor.


E: Seu álbum Ave Maria En Plein Air contém doze lindas Ave Marias, de vários compositores diferentes. Mas a última é uma versão bem pessoal e tocante, o que você nos conta sobre essa composição?
T: É minha própria. Eu escrevi tendo em mente os shows da Natal na Finlândia, na época, e é uma mistura de música contemporânea e clássica. Eu não tenho escrito muita música clássica - lógico, na universidade sim, mas depois disso não tive tempo. Mas eu adoraria, adoraria escrever para uma trilha sonora de um filme ou algo do tipo, porque me sinto muito apaixonada por escrever música hoje. É um novo amor e eu estou animada porque eu sou como recém-nascida nesse campo. Mas aquela Ave Maria é bem emocional, muito emocional.


E: É sua primeira vez em Cluj?
T: Sim!
E: Você conseguiu visitar algo?
T: Não, infelizmente não! A gente acabou de chegar, poucas horas atrás, e daí temos o show e amanhã as oito da manhã corremos para o aeroporto de novo! Então eu não tive tempo de ver sua linda cidade, que me disseram que é muito muito linda, então tomara que um dia eu tenha a oportunidade de voltar, nem como artista, mas como turista. Seria um prazer.


E: Como você se sente no palco?
T: Minha segunda casa (risos). É minha segunda casa. Eu me sinto abençoada de poder me apresentar em tantos ambientes diferentes, diferentes casas, seja um teatro ou uma casa de rock, ou uma arena, ou um festival para milhares de pessoa. São lugares diferentes, naturezas diferentes, diferentes atmosferas. E isso é animador, como artista, poder lidar com as situações enquanto elas mudam. Você precisa estar em cima do momento toda vez. Eu estou muito grata de poder vir cantar nessa ópera Nacional aqui, o lugar é lindo, o som é lindo. O concerto vai ser bem calmo, então as pessoas vão poder só fechar os olhos e curtir. Vai ser mágico.


E: Como você se relaciona com o público?
T: Sempre há uma conexão, muito forte, entre mim e meu público. Não há maneira de que eu possa entrar no palco sem ter meu coração envolvido, sem ter minha alma ali. Eu tenho que sentir o público, e quando isso acontece, talvez eu esteja nervosa nas primeiras músicas, mas quando eu posso relaxar... Tem uma energia incrível, sempre. Não importa se é um show de rock ou um concerto clássico. Depende das pessoas, das mudanças culturais que estão sempre no ar.


E: O que você pode nos contar sobre a Tarja nos palcos, se apresentando, e da Tarja de fora dos palcos? Tem grandes diferenças?
T: Você não me vê usando aqueles vestidões! (risos). E ás vezes quando as pessoas me veem na rua... Bem, eu não uso nenhuma maquiagem também, sou só uma pessoa normal nesse sentido, e quero me manter desse jeito. Manter a diferença entre eu como artista e eu como...eu. Eu nas minhas roupas de palco e eu. Mas, além disso, sou eu. Minha personalidade é a mesma. E para ser completamente honesta, hoje em dia eu posso ser eu mesma nos palcos, e isso eu não vou mudar. Isso eu não mudaria nunca.


E: O que você acha do público Romeno?
T: A Romênia me recebeu de braços abertos muitas vezes. Eu nem lembro quando foi a primeira vez que eu visitei seu lindo país. Acho que só Bucareste. Estive em Sibiu também. Mas wow, tem sido incrível ter seu apoio durante os anos. Sou muito muito grata. É uma ótima audiência. Acho que até me lembro que da última vez que eu estive aqui peguei uma garota nos braços no show de rock, e ela subiu no palco... foi uma festa! Foi ótimo, lindo. As pessoas não esperam que essas coisas aconteçam, mas por que não?


E: O que a magia do Natal significa pra você?
F: Significa família. Para mim, especialmente, significa família. E para mim é Natal é na Finlândia. Já faz muitos anos que estou longe da minha terra natal, quando eu estou lá e consigo passar o Natal lá é mágico. Eu também sinto falta da minha família finlandesa. Meu pai e meus irmãos e suas famílias. Nós nos vemos muito raramente, talvez uma vez por ano, se tanto. Depende de quando eu consigo ir pra Finlândia, por trabalho, geralmente. Então o natal é um tempo especial da família. Só relaxar, aqueles poucos dias, e aproveitar boa comida, boa música e o amor dos mais próximos.


E: E os primeiros passos da sua carreira solo foram concertos de natal.
T: Sim, sim. Definitivamente, aquilo foi... um momento muito excitante para mim. Eu estava chorando. Pelo menos nos shows que fiz na Finlândia eu estava chorando e chorando porque era tão emocionante ver os teatros cheios de gente, e as pessoas estavam chorando, foram shows muito emocionais. Foi 2005.


E: Você é uma artista muito ocupada. Como lida com todos esses projetos que está envolvida? Os shows e o estúdio e o The Voice...De onde você tira a energia?
T: (risos) é o que eu te disse, sou viciada em trabalho! E eu tenho um marido viciado em trabalho também, então...Ele é meu empresário, me mantém ocupada! (risos). A força vem do trabalho que eu adoro. Claro que se eu não gostasse do que faço estaria muito cansada e fisicamente doente, mas eu gosto de ter a variedade de desafios que tenho em minha vida. Eles são muito importantes pra mim.


E: O que mais te faz feliz?
T: Minha família. Minha pequena filha, de três anos, Naomi, ela me faz feliz todo dia, a cada cinco segundos. Ela é uma criança extraordinária, viajando com os pais, estará aqui essa noite também, provavelmente assistindo o show do lado do palco. Com alguma sorte não gritando pela mamãe (risos). Ela me faz muito feliz. Mas também estar saudável, minha família estar saudável, são coisas muito importantes na minha vida hoje - eu não sou mais uma garota, jovem, então você começa a ver o valor da vida, e a felicidade vem das pequenas coisas.


E: O que significa para você ser livre, como artista e como pessoa?
T: Bom, é o ar que eu respiro, essa liberdade de poder criar para mim. Já me perguntaram várias vezes se eu estou pensando nos fãs quando componho, e eu não estou. Porque eu me sentiria mal sobre isso. Se não fosse por mim, por quem? Quero dizer, se eu não me sentisse bem com a minha arte, ninguém se sentiria. Mas ter a liberdade de ter meu coração envolvido quando eu crio... ter alguém ou alguma gravadora me dizendo que tipo de coisa eu tenho que escrever seria muito difícil. Eu estive numa situação assim, e não me senti confortável. E claro, se tem alguém ouvindo o que eu escrevo e diz "wow, eu realmente amo isso", está fora do meu controle, mas é maravilhoso.


E: E a última pergunta... Você é uma inspiração para muitos jovens artistas. Muitos decidem seguir música clássica depois de te verem cantando ao vivo ou ouvir seus álbuns. Como isso te faz sentir?
T: É inacreditável conversar com garotas ou até com mulheres da minha idade e ouvir que inspirei elas a começar suas próprias carreiras. E ainda é meio difícil parar mim aceitar que esse tipo de coisa aconteceu e tem acontecido porque eu só estou fazendo... Eu estou trabalhando muito duro, todo dia, ainda, para me tornar melhor no que eu faço. Para ser melhor como cantora, melhor como compositora, como artista, como pessoa. Então se há pessoas que me veem dessa forma positiva, como uma espécie de ídolo, é incrível. É uma benção.
E: Muito obrigada, foi um prazer te receber. Mal posso esperar pelo seu show hoje à noite.
T: Muito obrigada! Eu também!