Há três coisas fundamentais que a humanidade deve à Finlândia: o Nokia 1100, Angry Birds e a voz maravilhosa de Tarja Turunen. Cada vez que a rainha do gelo abre os lábios, derrete até o mais duro dos corações metaleiros.

Menina com garganta e formação em música clássica prodigiosa, tornou-se um ícone como vocalista da banda de metal sinfônico Nightwish, com quem compartilhou uma década difícil. Depois de uma separação litigiosa, no final de 2005, Tarja começou uma carreira solo de sucesso.

Casada com o empresário e manager argentino Marcelo Cabuli por 15 anos, a cantora se mudou para Buenos Aires, onde começou uma família e tornou-se regular nos principais programas nacionais. E em nosso país, em 14 de Novembro, no Estádio Malvinas Argentinas, é que vai fechar sua turnê "Colours in the Road", que há mais de dois anos está passando ao redor do mundo. "Estou feliz. Quando terminarmos a tour,  teremos dado 110 concertos em 32 países, muitos dos quais nunca tinha visitado antes. Será um prazer voltar para a Argentina e se divertir com a banda Asspera. Estamos planejando algo especial para a noite no Malvinas, se preparem para arrasar conosco como nunca ", ela promete à Generacion B.

Mas essa não é a única novidade na sua agenda cheia. Tarja lançou Ave Maria - En Plein Air, seu primeiro álbum de música clássica, que contém doze versões da tradicional oração à Virgem Maria por vários autores, incluindo Paolo Tosti, David Popper, Astor Piazzolla e Johann Sebastian Bach, bem como sua própria versão. "Há muito tempo eu queria fazer um álbum clássico, mas nunca tive o tempo ou a oportunidade de fazê-lo direito. Esse gênero foi meu primeiro amor desde que eu era pequena. E eu trabalhei muito para me transformar em uma cantora lírica respeitada, porque fiquei conhecida como cantora de heavy metal.”

O que te atraiu para a oração para fazer este trabalho? Era um vínculo religioso ou interesse musical único?

T: Eu fiz isso apenas por motivos pessoais. A ideia de gravar este álbum veio vários anos atrás, com a ajuda e apoio do organista Kalevi Kiviniemi, que já trabalhou comigo por muitos anos. Ele sugeriu que eu o fizesse porque ele gostava quando eu cantava Ave Maria em meus concertos de música clássica.

Eu acho que minha voz soa como nunca antes na música de câmara, que é o estilo que mais estudei no canto. Ao longo dos anos, quase sempre eu incluí versões de Ave Maria em meus concertos tradicionais de Natal na Europa. Então, há alguns anos, eu decidi escrever uma para a tour, e agora a incluí neste álbum.

E: O processo de gravação foi muito especial: em Lakeuden Risti Igreja, Finlândia, ao vivo e sem retoque no estúdio...

T: Sim. Primeiro, a atmosfera da igreja é muito diferente de um estúdio. Todos os músicos tocavam as canções sem uma audiência, e, em seguida, escolhemos as melhores tomadas. Então, o que você ouve no álbum é puro, é o que se pode ouvir tocar na igreja durante as sessões.

Levou meses para iniciar a gravação. Eu tive que fazer uma pesquisa minuciosa antes de encontrar as versões que você deseja incluir no álbum. Além disso, eu precisava me preparar com muito cuidado com a minha professora de canto para seguir e respeitar o estilo das composições. Tivemos que pedir a permissão do pastor e do vigário da igreja e reservar as datas com antecedência. Demorou muito tempo para ensaiar as músicas, mas a gravação foi feita em apenas três dias.

E: Em vários concertos você homenageou Gustavo Cerati. Como você conheceu a sua música e o que ela representa para você?

T: Eu conheci o rock argentino através do meu marido que tem todos os discos Cerati e Soda Stereo, e eu gosto muito. No início do meu relacionamento com o país, nem mesmo entendia as letras, mas eu não me importava: a música falou comigo. Gustavo era um músico muito talentoso que, com sua arte, deu muita alegria para a vida das pessoas, e isso nunca vai mudar.

E: Ainda que você tenha casa em Buenos Aires, você está viajando durante o ano em todo pelo mundo. Quando você está fora, de que coisas sente saudades da Argentina e de que outras a você parecem loucas ou absurdas que só acontecem aqui?

T: Sinto falta da carne: eu não consigo encontrar um churrasco decente em qualquer outro lugar! E, claro, sinto falta da minha casa e os meus amigos muito. Mas devo dizer que eu realmente, sinceramente, odeio a corrupção e política na Argentina. Esse tema esta em alta no país, e prefiro até não ler as notícias, porque elas estão cheias de negatividade. Eu realmente espero um futuro melhor para esse país que eu amo tão profundamente.

E: Eu acho que um dos momentos mais estranhos e brilhantes da TV no ano passado foi a sua presença em Animales Sueltos, com Alejandro Fantino. Como aconteceu?

T: Fui convidada no mesmo dia que foi ao ar! Eu estava um pouco em pânico, porque eu nunca tinha visto o show e não sabia o que poderia acontecer. De qualquer forma, eu me diverti e todos me trataram com muito respeito. Espero ter outra oportunidade para conversar com Alejandro, mas cara a cara. Ele faz um grande programa e é muito bom em entrevistas. Talvez algum dia eu consiga ir tocar algo e falar sobre a vida.

E: No próximo ano um novo álbum vai ser lançado: o que você pode nos adiantar?

T: Neste momento estamos trabalhando na mixagem com Tim Palmer [Pearl Jam, Robert Plant, Ozzy Osbourne], que trabalhou comigo em meus álbuns anteriores. O próximo álbum tem os mesmos elementos que já conhecem, e continuo o desenvolvimento natural do Colours in the Dark. Com este álbum, eu encontrei o meu som e, agora, tentei melhorá-lo e torná-lo mais definido usando diferentes instrumentos e arranjos.

Eu acho que os fãs vão se surpreender novamente com algumas coisas novas no álbum, já que eu sempre tento provocá-los, haha. Eu sinto que é o melhor trabalho que eu fiz até agora na minha carreira, mas eu vou deixar o público julgar. Vai ser lançado em meados do próximo ano, e espero que vocês gostem.

E: Já se passaram dez anos de sua partida do Nightwish. Agora, à distância, quais são os sentimentos em relação à banda nesta fase da sua vida?

T: Meus sentimentos em relação a membros e a organização não mudaram ao longo dos anos, com a exceção de que eu não preciso mais pensar neles todos os dias. Eu não estou interessada em ver o que eles estão fazendo desde que paramos de trabalhar juntos. Sinto-me abençoada por estar trabalhando em minha própria carreira, para criar minha arte e ter pessoas para me apoiar. Eu quero ser feliz e saudável. Graças a Deus, agora eu posso estar bem.

E: Nightwish vai tocar nos próximos dias em Buenos Aires, no Luna Park. Suponha que você seja convidada: iria vê-los?

T: Eu sinto muito, estou na Europa, hahaha.