"Naomi é a menininha do pai"

Naomi, com dois anos, frequentemente se senta com sua mãe durante a maquiagem. Ela gosta de organizar as sombras e esmaltes por cor e ás vezes pede que um esmalte seja aplicado em uma pequena unha. Desta vez, entretanto, a pequena chamada de Namu permaneceu no hotel para dormir.
Tarja Turunen, 37, senta-se na cadeira de maquiador e diz que a filha presta atenção no que a mãe faz.
"Uma vez em casa a encontrei mexendo na maleta de maquiagens. Ela estava passando sombra preta nas pálpebras. Ela viu a mãe fazendo isso".
Além da rotina de maquiagem, Naomi já foi acostumada ás passagens de som, ônibus de tour, bastidores, hotéis e longas viagens de avião.
"Meus irmãos me intimidaram dizendo que eu não seria capaz de sair em tour depois que meu bebê nascesse".
A vida mostrou que aquele medo foi por nada. Tarja está trabalhando até mais do que dois anos atrás.
"A diferença é que agora temos uma filha que vem primeiro, não nós. Eu tiro muita força de ter minha família comigo."
No futuro a família terá que tomar uma decisão difícil: em que país Naomi começará a escola? Como serão as tours? O lar ainda será Buenos Aires, na Argentina?

A bordo

"Yupeee" é a resposta mais comum da filha quando os pais a contam sobre a próxima viagem. Algumas viagens também foram difíceis. No fim do verão Tarja fez uma tour que durou quase um mês na Rússia. Os concertos foram de Moscou a Vladivostok.
A diferença de Buenos Aires para as cidades chegou a ser de 13 horas, o que bagunçou a agenda de sono de Naomi.
"Ela estava dormindo durante o dia e acordada de noite. Na volta nós paramos na Itália para que o retorno não fosse tão difícil. Com ela, nós tentamos fazer as viagens o menos estressante o possível".
Durante as viagens ela passa o tempo com o pai Marcelo Cabuli enquanto Tarja está nos palcos. Nas tours de rock a família viaja com uma babá que permite que os pais lidem com o trabalho relativo aos shows.
"Sem uma babá eu não teria tempo de cuidar da minha saúde física. E sem isso você não consegue fazer um show de rock de duas horas".

O legado de mãe

Quando Tarja retorna para sua casa em Buenos Aires, a primeira coisa que faz é pegar um pano e limpar. Só quando a casa está brilhando é que ela pode relaxar no sofá.
A mania de limpeza ela herdou de sua mãe.
"Quando eu era mais jovem eu me perguntava como ela conseguia, depois de um dia de trabalho, ter energia para passar aspirador na casa. Hoje eu faço exatamente a mesma coisa".
Naomi nunca conheceu sua avó, que morreu com câncer em 2003. Tarja não perdeu só uma mãe, mas uma grande amiga. Mãe e filha eram muito próximas.
"Eu espero ter o mesmo tipo de relacionamento com Naomi", diz Tarja. "Hoje ela ainda é a menininha do pai, há coisas que só o pai pode fazer. Comparando com a minha infância, ele passa mais tempo com ela do que meu pai passava comigo."
Tarja sente um pouco por Naomi não ter companhias da mesma idade o tempo todo para brincar. Ela está crescendo determinada, sabe quando quer as coisas, o que quer, e por que quer.
"Ela é um pouco precoce. Brincar tanto com adultos certamente tem parte nisso. Brincar traz espontaneidade à criança."

Primavera na Finlândia

A gravação para o "The Voice of Finland" começou em Outubro e na próxima primavera a transmissão ao vivo trará a família para a Finlândia com frequência. Tarja espera poder conseguir um apartamento em Turku ao invés de um quarto de hotel. Neste caso, eles poderiam levar uma vida normal de todo dia.
Tarja gosta que Naomi possa ouvir Finlandês em todos os lugares e não só com a mãe e os filmes. A família de Tarja também está na Finlândia: pai e dois irmãos com suas famílias. Várias boas razões para considerar voltar.
"Agora, me parece que eu não gostaria de voltar. Claro que sinto falta da minha família, da calma, segurança e espaço finlandês, mas por outro lado, não sinto falta da escuridão e da neve. A luz de Buenos Aires é realmente importante para mim. Meu coração está lá agora".

Feita na Finlândia

Buenos Aires tornou-se mais ainda a casa de Tarja durante sua gravidez, quando aperfeiçoou seu espanhol. Agora Marcelo e Tarja falam espanhol um com o outro, mas a primeira língua de Naomi é Finlandês. Ela também entende Espanhol.
"É importante para mim que Naomi fale Finlandês. De outra maneira ela não poderia se comunicar com meu pai, por exemplo. Eu quero que ela conheça ambos os seus países de origem. No fim das contas, ela foi feita na Finlândia, já que engravidei durante uma tour de natal aqui".
Não vai demorar para que Naomi comece a escola. Tarja admite já ter pensado em como isso vai mudar a rotina da família. Ela provavelmente vai começar a fazer as tours sozinha e mais curtas. Marcelo ficará em casa com a garota.
E já que a mãe tem que voltar para a terra natal com frequência, talvez a casa da família tenha que ser repensada.
"Nós temos um lar agora em Buenos Aires, mas Marcelo tem cidadania espanhola e Naomi tem a dupla cidadania finlandesa e argentina. Se voltarmos para a Europa, provavelmente escolheríamos a Espanha por conta da língua.";
Ela decidiu não se preocupar muito com o assunto por enquanto.

A demissão foi uma benção

Tarja aprendeu a confiar nos caminhos da vida durante sua carreira. A música era seu hobby desde os seis anos e na adolescência começou a ter aulas de canto. Suas habilidades não eram favoráveis para cantar as músicas de soul que ela tanto gostava. Entretanto, o único professor de canto clássico de Kitee levou sua voz em uma outra direção.
Em 1996, o Nightwish era para ser somente um projeto de um grupo de amigos - seria só um hobby. Mas foi diferente.
Depois de nove anos na banda, veio a famosa demissão. Terá Tarja perdoado a banda?
"Eu nunca vou entender como eles lidaram com esse problema. Isso não tem nada a ver com perdoar. Eu já passei por isso e não vou voltar. As coisas hoje estão melhores do que nunca para mim. Hoje penso que sair da banda foi uma benção.!
De acordo com Tarja, uma carreira solo oferece a chance de fazer tudo: música clássica, rock e tudo entre os dois. Ela também já colaborou com a nova cantora do Nightwish, a holandesa Floor Jansen. As mulheres são amigas de longa data. Poderia isso significar uma colaboração com o Nightwish?
"Eu nunca irei trabalhar com o Nightwish de novo. Nunca. Mas com a Floor, por que não?"

Experiência em audições

The Voice of Finland não é o primeiro programa de tv ao qual Tarja foi convidada a participar, mas é o primeiro que ela aceita. Por quê?
"Esse [programa] tem formato encorajador. Eu consigo me ver nas pessoas se inscrevendo."
Em 2002 a cantora era internacionalmente famosa pelo Nightwish, mas isso não a garantiu pontos extras na hora de se inscrever para a Karlsruhe's, universidade de música alemã.
No exame de entrada, Tarja descobriu que seu nome era o último da lista. Cantores antes dela iam em frente aos jurados em suas vezes. Através da porta, ela podia ouvir todos cantando uma ária de ópera e um Lied alemão. Com Tarja, os jurados quiseram ouvir um Lied, depois mais outro, e depois disso um terceiro. "Aquilo realmente me deixou mal. Eu não sabia se tinha ido bem ou mal. Só descobri meses depois quando a carta de admissão chegou em casa."
Técnicas de canto é uma das coisas na qual ela espera poder ajudar como treinadora.
"Dos quatro jurados, eu sou a que tem mais conhecimento de técnicas de canto. Mas mesmo com minha bagagem clássica eu não me prendi a um só estilo de música".

O número de crianças já está no máximo

O calendário de Tarja já está cheio até bem longe no futuro. A nona tour de natal é a próxima coisa. E se a vontade de ter outro filho aparecer?
"Seria bastante impossível ter outro filho nessa correria. Eu adoraria que Naomi tivesse alguém com quem brincar, mas esse tipo de vida não seria possível com uma grande família. Só a quantidade de coisas [a carregar] seria enorme."
Tarja é direta ao dizer que não quer restringir seu trabalho.
"Seria muito triste e cínico se eu tivesse que parar com a música. É uma paixão que meu corpo e minha mente demandam".